Como a agricultura regenerativa pode promover impacto socioambiental positivo
Apesar de estar ganhando mais espaço nas agendas ambientais nos últimos anos, o conceito de regeneração relacionado aos processos econômicos já existe há muito tempo.
Desde a década de 70, o modelo dominante baseado no crescimento contínuo e no consumo irresponsável de recursos já era criticado. A sustentabilidade do crescimento econômico contínuo foi questionada, por exemplo, no livro Os Limites do Crescimento (1972).
A partir daí, diversas ideias e conceitos evoluíram em torno da proposta de um modelo focado na regeneração, em vez de exploração.
Nesse contexto, na década de 90, a agricultura regenerativa, que enfatiza práticas agrícolas que recuperam o solo e os ecossistemas locais, começou a ganhar destaque. Este movimento foi influenciado por agricultores e pesquisadores como Allan Savory e Bob Rodale, que vinham investigando temas relacionados à agricultura orgânica.
No entanto, antes de entender o conceito de agricultura regenerativa, é importante esclarecer:
No âmbito de ações voltadas à proteção e ao cuidado do meio ambiente, sustentabilidade é um termo muito mais conhecido do que regeneração.
A sustentabilidade remete à manutenção do equilíbrio, garantindo que as necessidades do presente sejam atendidas sem comprometer a capacidade das futuras gerações.
Mas quando o equilíbrio já não existe, a sustentabilidade não é suficiente. É preciso reverter os danos. Regenerar!
Você já ouviu falar nos limites planetários?
Esse conceito científico diz respeito a um conjunto de nove fronteiras dentro das quais a humanidade pode continuar a se desenvolver e prosperar por gerações futuras. Na prática, ultrapassar os limites planetários significa aumentar o risco de gerar mudanças ambientais abruptas e irreversíveis em grande escala.
Do aquecimento global à degradação da biosfera e ao desmatamento, de poluentes e plásticos aos ciclos de nitrogênio e água doce, seis dos nove limites planetários estão sendo ultrapassados, enquanto simultaneamente a pressão em todos os processos de fronteira continua aumentando.
Em 2009, dos sete limites identificados, três haviam sido ultrapassados: mudanças climáticas, integridade da biosfera e ciclos biogeoquímicos.
Em 2015, mais um limite planetário foi cruzado, o de mudanças no uso da terra.
No ano passado, já com nove limites planetários identificados, a lista dos que foram cruzados chegou a seis, como mostra a imagem abaixo.
Para se ter uma ideia do quanto estamos abusando do ecossistema global, atualmente, a humanidade está usando a natureza 1,7 vezes mais rápido do que a biocapacidade de regeneração do planeta. Ou seja, para suprir a demanda de recursos atual, precisaríamos de 1,75 planeta.
“Não sabemos por quanto tempo poderemos continuar a transgredir estes limites fundamentais antes que as pressões combinadas conduzam a mudanças e danos irreversíveis.”
Johan Rockström, Diretor do Instituto Potsdam de Pesquisas sobre o Impacto Climático, diretor-executivo do Stockholm Resilience Center e um dos criadores do conceito dos limites planetários
A agricultura contribuiu significativamente para a transgressão dos limites planetários de diversas maneiras:
De maneira geral, a agricultura tem causado uma perda significativa de biodiversidade, tanto pela conversão de habitats quanto pelo uso intensivo de produtos químicos, afetando a integridade dos ecossistemas globais.
Nesse cenário, a adoção de práticas regenerativas na agricultura é uma necessidade urgente para ajudar a restaurar sistemas fundamentais para a economia e, em última instância, para preservar a vida na Terra.
Ou seja, a agricultura regenerativa não se limita a seguir um conjunto fixo de práticas agrícolas, diz respeito a considerar todo o sistema no qual a agricultura está inserida, incluindo fatores ambientais, sociais e econômicos. O objetivo final é garantir que essa abordagem seja capaz de sustentar tanto as práticas agrícolas, quanto as empresas, as economias e a civilização como um todo.
Essa visão holística busca regenerar e revitalizar os ecossistemas, garantindo que a agricultura contribua para a saúde do planeta e das sociedades, ao invés de simplesmente extrair recursos. É uma abordagem com visão de longo prazo, com a intenção de criar sistemas agrícolas mais resilientes.
Segundo a Natural Resources Defense Council (NRDC), os princípios da agricultura regenerativa são:
Leia também: Café justo e regenerativo: 5 negócios de impacto para inspirar transformações no setor
A agricultura regenerativa gera impactos em diversas frentes. Além de fortalecer a produtividade rural e promover o desenvolvimento dos agricultores, essas práticas tornam os ecossistemas mais resilientes e são ferramentas fundamentais para mitigação das mudanças climáticas.
Estimativas apontam que a adoção da agricultura regenerativa em 40% das terras agrícolas do mundo poderia reduzir cerca de 600 milhões de toneladas de emissões de gases de efeito estufa. Para se ter uma ideia, isso é equivalente ao impacto ambiental da Alemanha e cerca de 2% do total global.
Contudo, para isso acontecer, as iniciativas de agricultura regenerativa precisam escalar rapidamente.
A seguir, conheça empresas do setor de alimentos e bebidas que estão liderando essa transformação, tornando o mercado mais regenerativo.
Com o objetivo de deixar para trás práticas ultrapassadas que impactam a biodiversidade, a Yogi Tea desenvolve parcerias – inclusive com concorrentes – em projetos que promovem processos regenerativos na produção do chá.
Em Ruanda, por exemplo, a prática tradicional de cultivo de chá se baseava na monocultura, o que tornava o solo mais vulnerável e limitava as fontes de renda dos agricultores.
Para mudar esse cenário, a Yogi se uniu a pequenos agricultores que produziam em fazendas de chá situadas em encostas íngremes – onde o solo exposto causava problemas como erosão e baixa biodiversidade – e iniciou um projeto de agricultura regenerativa.
Por meio dessa parceria, foi plantado capim-limão entre os arbustos de chá em 65 fazendas. Essa medida ajudou a reduzir a erosão do solo e aumentar a biodiversidade, e ainda proporcionou aos agricultores uma fonte de renda adicional, diversificando seus ganhos.
Saiba mais: yogitea.com
A Óbolo nasceu para desafiar a ideia de que chocolate de qualidade depende de técnicas europeias e ingredientes africanos (com alto impacto ambiental e social negativo). A empresa utiliza exclusivamente grãos de cacau nativos da América Latina para reduzir a pegada de carbono e promover a conservação da Amazônia por meio de cultivos agroflorestais.
A empresa integra árvores de cacau com outras espécies nativas da floresta amazônica, promovendo uma forma de cultivo que sustenta a produção agrícola, ao mesmo tempo em que contribui para a regeneração e a preservação do ecossistema natural.
Para obter cacau nativo de alta qualidade cultivado em sistemas agroflorestais, que respeitam e promovem a biodiversidade local na região amazônica peruana, a Óbolo tem uma parceria com a Cooperativa Agrária Cafetalera Pangoa, que reúne agricultores que cultivam principalmente café e cacau, promovendo práticas agrícolas sustentáveis e de comércio justo.
Saiba mais: obolochocolate.cl
A Belterra tem como missão transformar áreas degradadas em florestas produtivas, utilizando Sistemas Agroflorestais (SAFs) em larga escala. Esses sistemas são uma alternativa regenerativa que visa melhorar a saúde do solo, restaurar paisagens naturais e recuperar a biodiversidade.
A empresa trabalha em parceria com pequenos e médios agricultores, oferecendo suporte técnico, acesso a crédito e mercado, além de integrar diversos serviços para promover a agricultura regenerativa e a bioeconomia.
Além disso, a Belterra avalia propriedades para verificar a viabilidade de implantação de florestas produtivas, oferecendo modelos de parceria que variam conforme o perfil do agricultor. Utilizando uma ferramenta que analisa mais de 34 culturas, a empresa cria sistemas agroflorestais que combinam ciclos curtos e longos, promovendo a regeneração do solo e gerando retorno financeiro desde o primeiro ano.
Saiba mais: belterra.com.br
Essa empresa se dedica à produção e comercialização de frutas secas ao sol de forma sustentável.
A empresa oferece orientação técnica para que os agricultores possam aumentar sua produtividade e trabalhar de forma mais eficiente, auxiliando-os na transição de métodos convencionais para práticas orgânicas e regenerativas.
Até agora, eles ajudaram 1.150 agricultores a fazer essa transição, o que não só melhora a saúde do solo e a qualidade dos alimentos, mas também promove um sistema agrícola mais sustentável.
Saiba mais: solsimple.com
A produtora de vinho Oé afirma estar comprometida em transformar a agricultura promovendo práticas que regeneram o solo, a água e a biodiversidade.
Como parte de seus esforços, a Oé já realizou iniciativas como a implementação de sebes agroflorestais, a instalação de caixas-ninho para pássaros e morcegos e a criação de apriscos com espécies ameaçadas. A Oé também colabora com parceiros para análise do solo e auditorias ambientais, sociais e econômicas nos vinhedos, promovendo ações regenerativas baseadas nessas análises.
Além disso, a empresa investe 1% do seu faturamento no Programa de Biodiversidade e apoia viticultores na adoção de práticas agroecológicas e biorregenerativas que eliminam o uso de insumos sintéticos, como pesticidas químicos.
Saiba mais: oeforgood.com
Tem interesse em conhecer outras empresas que estão transformando o mercado de alimentos e bebidas por meio da adoção de práticas que beneficiam as pessoas e o planeta?
Então talvez goste de saber que o Estudo B #7 vai contar as histórias de mais de 100 empresas que estão ajudando a tornar esse mercado justo e regenerativo!
O novo relatório da série Estudos B será um guia sobre inovação, tendências e histórias de impacto no setor de alimentos e bebidas na América Latina (de onde viemos – e para onde sempre olhamos) e Europa (onde parte da nossa equipe está baseada).
Com o objetivo de atrair mais marcas para participar dessa iniciativa, criamos um plano de patrocínio para o Estudo B #7. Recentemente, o projeto ganhou um parceiro importante: a consultoria Dreams & Purpose, comandada por Leonardo Lima, que tem uma vasta carreira na indústria de alimentos.
Se você quer trazer sua marca para este estudo que conectará o Sul e o Norte Global por meio de histórias de impacto no setor de alimentos e bebidas, envie uma mensagem ou entre em contato com João Guilherme Brotto, cofundador d’A Economia, pelo LinkedIn.
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