Foto de Masood Aslami
Políticas públicas ambiciosas limitaram carros, ampliaram ciclovias e abriram espaço para áreas verdes, trazendo ganhos visíveis e invisíveis
A Champs-Élysées, a Torre Eiffel e todo o charme que envolve Paris fazem da capital francesa um dos destinos turísticos mais procurados do mundo. O que nem sempre aparece nos cartões-postais, porém, é que a Cidade Luz também se tornou referência em sustentabilidade, liderando uma transformação urbana que inspira metrópoles em todo o planeta…
Há vinte anos, quem caminhava por Paris dividia o espaço com o barulho incessante dos carros e o ar pesado da poluição.
Hoje, a mesma cidade revela outro cenário: mais silencioso, mais verde e com um ar notavelmente mais limpo para respirar.
De acordo com a Airparif, organização independente que monitora a qualidade do ar na região metropolitana da capital francesa, os níveis de material particulado fino* (PM2,5) caíram 55% na cidade desde 2005, enquanto as concentrações de dióxido de nitrogênio recuaram 50%.
Os mapas de calor elaborados pela entidade mostram o contraste: se antes quase todos os bairros estavam cobertos por manchas vermelhas indicando níveis de poluição acima do limite estabelecido pela União Europeia, em 2023, a zona crítica havia encolhido para poucas linhas acompanhando as avenidas mais movimentadas.
*Para entender melhor:
A mudança é resultado de políticas públicas ambiciosas. O processo começou nos anos 2000, mas se intensificou significativamente a partir de 2014, quando Anne Hidalgo assumiu a prefeitura e passou a defender uma “Paris que respira, uma Paris mais agradável de se viver”.
Desde então, a cidade eliminou cerca de 50 mil vagas de estacionamento, fechou trechos inteiros de ruas para carros, transformou margens do rio Sena em áreas de lazer e reduziu drasticamente o tráfego na Rue de Rivoli, um dos principais bulevares comerciais da cidade.
Além disso, em 2024, a prefeitura aumentou as tarifas de estacionamento para SUVs, desestimulando a circulação de veículos maiores. Mais recentemente, um referendo aprovou a criação de 500 novas ruas exclusivas para pedestres.
A redução da poluição não é apenas uma conquista ambiental, mas também sanitária. Partículas finas e gases tóxicos oriundos da queima de combustíveis fósseis estão associados a doenças graves, como infartos, câncer de pulmão, bronquite e asma. O exemplo parisiense mostra como escolhas urbanas podem salvar vidas, ao mesmo tempo em que tornam a cidade mais verde e habitável.
Isso não significa, porém, que todo mundo concorde com essas iniciativas.
As medidas implementadas por Hidalgo enfrentam resistência de políticos de oposição, associações de motoristas e trabalhadores que vivem nos subúrbios, muitos dos quais dependem do carro no dia a dia. Apesar disso, a transformação urbana segue firme, sustentada em uma visão que prioriza o bem-estar coletivo e a saúde pública.
A capital francesa não enfrenta o desafio da poluição sozinha. Paris participa de duas redes globais que conectam metrópoles comprometidas com a qualidade do ar.
A primeira é a BreatheLife. Apoiada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), a iniciativa conecta cidades comprometidas com a melhoria da qualidade do ar, oferecendo orientação técnica e compartilhamento de experiências.
Mais recentemente, Paris aderiu também ao Breathe Cities, uma coalizão liderada pela Bloomberg Philanthropies, C40 e Clean Air Fund que oferece apoio técnico e financeiro para acelerar políticas de ar limpo.
Na prática, essas redes oferecem algo concreto: dados, estratégias testadas e até financiamento disponível.
O caminho já foi aberto – e municípios de qualquer tamanho podem percorrê-lo, adaptando as soluções à sua própria realidade. A cada ciclovia construída, a cada zona de baixa emissão implementada, a cada sensor instalado, cidades engajadas na transformação urbana não apenas reduzem a poluição e salvam vidas, como também combatem a crise climática.
Informações: The Washington Post, RFI / Imagem de destaque: Masood Aslami
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