Convidamos um time de especialistas que esteve no ChangeNOW 2025, em Paris, para um bate-papo sobre os aprendizados, provocações e caminhos que seguem ecoando depois do evento
A semana passada foi especial para A Economia B. Na quarta-feira, reunimos quase 100 pessoas em nosso primeiro webinar! O encontro “Uma visão do que o mundo pode ser” teve como ponto de partida o ChangeNOW 2025, maior evento global dedicado a soluções para o planeta, que aconteceu em Paris, no fim de abril, mas acabou indo bem além do que vimos na capital francesa…
Foi uma conversa baseada em compartilhar caminhos possíveis para uma economia mais justa, regenerativa e viável – do Donut Brasil ao ChangeNOW, dos novos padrões de certificação de empresas B à comunicação como solução climática.
Acredito que entregamos bons pontos pra te fazer pensar. Se você estava lá, muito obrigado. 🙂 Se não conseguiu ver ao vivo, reforço o convite para que assista. A gravação está disponível em nosso canal no YouTube. Aliás, se for “passear” pelo nosso canal, sugiro que navegue pelos outros vídeos. Temos entrevistas exclusivas, reportagens, coberturas internacionais e minidocumentários.
Gostamos tanto de organizar esse encontro que estamos pensando em manter uma agenda mensal de webinars. Já temos algumas ideias de temas que renderiam boas conversas, mas queríamos saber se tem algum assunto que particularmente te interessa. Deixa um comentário contando o que você gostaria de ver sendo debatido no próximo evento. E se tiver sugestões de pessoas que deviam estar nos próximos papos, aproveita para marcá-las; a gente vai levar sua opinião em conta!
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Há duas semanas fui convidado pelo European Science Communication Institute para participar de um speed date entre jornalistas e cientistas que pesquisam biodiversidade.
A proposta do evento era promover uma conversa informal para cinco pesquisadores apresentarem suas pesquisas. Tive oito minutos com cada um deles. As conversas não foram gravadas e não havia a obrigação de transformar a troca em reportagem, foi realmente um bate-papo.
Enquanto me preparava para as conversas, fiquei fascinado com ideias, teorias e iniciativas que vêm da Alemanha, Suécia, Hungria e Espanha. Entre os temas da pauta:
A seguir, apresento um resumo sobre o trabalho de cada pesquisador, junto com links complementares. Tem muita coisa interessante pra olhar ali!
Pesquisador no European Forest Institute, o finlandês Mathias Cramm investiga por que compromissos corporativos contra o desmatamento (ZDCs) avançam mais sob pressão de ONGs, investidores e reguladores do que por iniciativa interna.
Sua pesquisa revela que muitas empresas adotam políticas ambientais como parte da estratégia reputacional, mas promovem poucas mudanças estruturais. Em outras palavras, praticam greenwashing.
Cramm defende que regulações públicas, como o novo regulamento da União Europeia sobre produtos livres de desmatamento (EUDR), são essenciais para transformar compromissos voluntários em ações efetivas.
Perguntei a ele que empresas são exemplo, ele não indicou nenhuma, mas recomendou olhar o Forest 500, projeto criado pela ONG Global Canopy. Em resumo, a plataforma identifica as empresas com maior influência sobre o desmatamento, com base em sua exposição a commodities de risco florestal, e as instituições financeiras que mais as financiam. Há várias brasileiras, inclusive.
Se quiser saber mais sobre o trabalho do Mathias, recomendo estes dois links:
Julia Neidig é uma cientista social alemã focada em justiça ambiental urbana e planejamento sustentável. É pesquisadora do Basque Centre for Climate Change (BC3) e do Barcelona Lab for Urban Environmental Justice and Sustainability (BCNUEJ).
Em sua tese de doutorado, Julia investigou como a “identidade verde” de Vitoria-Gasteiz (País Basco, Espanha), eleita Capital Verde Europeia em 2012, foi construída ao longo de 40 anos.
O artigo argumenta que a visão inicial de uma cidade verde e social – fruto de experiências urbanas democráticas progressistas nos anos 1980 – acabou se transformando em um ativo econômico e cultural, deslocando-se de um projeto político para uma solução de sustentabilidade à prova da polarização política.
Além disso, o texto também questiona o uso de supostos selos relevantes de green city/smart city como ferramenta de marketing e foco apenas em crescimento econômico.
Em outra pesquisa, Julia propõe a valorização de múltiplas formas de conexão das pessoas com a natureza como forma de tornar as políticas urbanas mais inclusivas e sensíveis às realidades locais.
Atualmente, ela pesquisa como pátios escolares verdes, quando cocriados com a comunidade, podem se tornar ferramentas de transformação urbana e reconexão com a natureza em contextos urbanos diversos.
Em resumo, o trabalho de Julia propõe que a construção de cidades verdes deve ser socialmente inclusiva, politicamente consciente e culturalmente enraizada. Recomendo fortemente que você conheça o trabalho dela:
O pesquisador húngaro Bálint Sándor pesquisa o conhecimento ecológico tradicional (TEK) de comunidades pastorais húngaras como ferramenta estratégica de conservação. Ele defende que esses saberes, muitas vezes marginalizados como folclore, deveriam ocupar lugar de destaque nas políticas europeias de biodiversidade. Sua pesquisa mostra como práticas ancestrais de manejo de pastagens podem inspirar modelos regenerativos.
Bálint argumenta que esse tipo de conhecimento é uma ferramenta poderosa de gestão ambiental, baseada em observação direta, adaptação contínua e relação profunda com o território. Ele defende que a política ambiental europeia precisa reconhecer esse saber como complementar à ciência convencional não apenas como herança cultural, mas como estratégia viva de resiliência e regeneração de territórios.
Impossível não conectar essas questões com os desafios de comunidades tradicionais no Brasil, que enfrentam ameaças similares: perda de território, migração obrigatória, marginalização institucional e desvalorização de seus saberes.
Deixo um link que tem uma boa história sobre o Bálint e mais informações sobre o grupo de pesquisa do qual ele é um dos líderes:
Oscar Jacobsson é pesquisador da Universidade de Gotemburgo e um dos especialistas participantes do projeto europeu BIOTraCes. Sua atuação concentra-se no estudo das percepções, práticas e desafios dos pequenos e médios proprietários florestais no sudoeste da Suécia, uma região marcada por florestas fragmentadas dentro de mosaicos agrícolas e urbanos.
Sua pesquisa defende que a eficácia da conservação florestal depende de abordagens políticas que reconheçam e respondam às condições específicas de cada comunidade local, o que requer diálogo regionalizado e descentralização nas políticas de apoio.
Jacobsson identificou que, embora os proprietários geralmente demonstrem interesse em biodiversidade e adaptação climática, muitos carecem de informações práticas, suporte técnico e acesso a políticas adequadas.
Sua pesquisa analisa como conciliar conservação com meios de subsistência, como adequar políticas públicas à diversidade de contextos locais e como integrar pequenos proprietários em estratégias florestais inovadoras.
Professora na Universitat Politècnica de València, a espanhola Neus Sanjuán desenvolve métodos para calcular a pegada de biodiversidade de produtos alimentares. Na prática, esse trabalho tem a ver com estimar quantas espécies são afetadas pela produção de um alimento – seja por uso intensivo do solo, degradação de habitats, poluição ou desmatamento indireto.
A metodologia desenvolvida por ela cruza dados ecológicos com informações sobre a origem dos ingredientes, tipo de cultivo, produtividade e localização geográfica. Dentro desse escopo, uma de suas linhas de pesquisa está ligada a investigar insetos como fonte de proteínas funcionais.
A pesquisa revela que existe potencial real para desenvolvimento de produtos alimentares e farmacêuticos a partir de insetos como o besouro, objeto do estudo. A proteína se destaca como uma opção mais sustentável em relação a proteínas animais convencionais. Você está preparado para a proteína de besouro?
Em linhas gerais, sua pesquisa busca influenciar compras públicas, decisões empresariais e políticas comerciais, inclusive no contexto da nova regulação europeia sobre desmatamento (EUDR). Ela tem uma bibliografia vasta:
Preciso dizer que gostei demais da iniciativa. Falando do ponto de vista de um jornalista que recebe dezenas de pautas por dia, foi o convite para um evento diferente, com gente interessante, que chamou a atenção. Deixo como sugestão para times de comunicação e assessorias de imprensa replicarem.
A sugestão hoje é que acompanhe nossa cobertura do ChangeNOW. Até o momento, publicamos 10 matérias sobre o evento. Navegue pela página de coberturas internacionais. Está tudo lá! Tivemos um cuidado em selecionar histórias realmente interessantes entre as tantas que vimos, como as que estão aqui:
“Fui a Paris levando a mensagem de que precisamos de um novo ponteiro pra nossa bússola econômica: é muito mais sobre achar um novo Sul do que ficar caçando um Norte que não dá mais certo.”
Rodrigo Gaspar
“A Economia Donut é uma proposta da economista Kate Raworth. Ela propõe justamente esse viver no Donut como a busca por um espaço justo e seguro para a humanidade e para todas as formas de vida, respeitando os limites do planeta. É um modelo muito prático, muito visual, muito simples de entender.”
Ana Lavaquial
“É muito potente quando você tem no mesmo evento startups, grandes empresas, organizações da sociedade civil, governos, juventudes, povos indígenas. Isso muda completamente o tipo de conversa que se tem. O ChangeNOW permite isso.” Nastassia Romanó
“Eu acredito muito no poder das empresas como grandes propulsionadoras de buscar e ajudar nas soluções. As empresas têm um poder de assumir um papel protagonista nisso tudo. O Prêmio Impactos Positivos existe desde 2020 e tem como grande propósito dar vitrine, visibilidade e fazer conexões para fortalecer o ecossistema.”
Roberta Coutinho
“Se cada pessoa dedicar uma hora por mês a uma iniciativa local de impacto, a gente muda a forma como se relaciona com o mundo. Isso vale para indivíduos, empresas, conselhos. É pouco tempo, mas, multiplicado, vira transformação.”
Eduardo Nunes
“Nos últimos anos, comecei a entender que a comunicação é uma solução climática – e ainda muito negligenciada, de forma geral. A partir dessa ótica, passei a enxergar a Economia B como um negócio de impacto. Estando dentro desse caldeirão de iniciativas incríveis espalhadas pelo mundo, vejo como é difícil sair do lugar quando você tem uma boa ideia, mas é pequeno, independente, sem recurso e sem grandes conexões. Quantas ideias acabam morrendo no caminho por falta de um apoio inicial – às vezes mínimo – que permitiria ao negócio simplesmente andar?”
João Guilherme Brotto
Desde que descobri a existência do micélio, no ChangeNOW 2024, em uma palestra de Mazen Rizk, CEO da Infinite Roots (biotech que tem o objetivo de mudar o mundo a partir da “raiz” dos cogumelos), eu fiquei um tanto obcecado por esse fascinante e desconhecido organismo. Fui até resgatar uma frase que havia anotado da palestra que assisti. “Em 3 dias podemos produzir micélio. Em 4 dias temos um produto para comer. Para comparar, soja: leva 150 dias; vacas: mais de dois anos”.
Além disso, o micélio tem múltiplas possibilidades de uso na construção civil, moda, design, embalagens, medicina, agricultura e possivelmente outros setores. Por que a gente ouve falar tão pouco sobre coisas tão fascinantes?
Dito isso, o SpringWise publicou um report sobre como o micélio pode ser uma solução climática. Vale a leitura!
Este vídeo conta a história verde de Vitoria-Gasteiz, Espanha, e mostra como um prefeito visionário criou, em 1986, um centro de estudos ambientais que moveu a cidade de um polo industrial que sofria com enchentes para uma referência internacional do que podemos chamar de uma cidade para pessoas.
A preocupação ambiental se tornou consistente a ponto de conseguir sobreviver a diferentes visões políticas na gestão municipal. Por coincidência (ou não), Vitoria é a cidade em que Julia Neidig faz sua pesquisa sobre os pátios escolares verdes.
A Dreams & Purpose Consulting, consultoria comandada por Leonardo Lima, acaba de lançar o e-book “COP30 – Um Guia Didático para Entender as Conferências do Clima”, que visa democratizar o conhecimento sobre a agenda climática global e o papel do Brasil na construção de soluções sustentáveis.
O guia conta a história das COPs, fala sobre resultados, fracassos, bastidores e reflexões, destaca frases históricas e traz links oficiais para aprofundamento. Além disso, mostra como as decisões das conferências afetam diretamente nosso dia a dia – da conta de luz à alimentação, do trabalho às oportunidades para jovens.
A Farol da Economia Regenerativa condena práticas como greenwashing, socialwashing, diversitywashing e wellbeing washing. As informações compartilhadas aqui passam por um processo de checagem feito pelo nosso time de jornalistas, porém, sabemos que muitas vezes à primeira vista pode não ser fácil distinguir iniciativas legítimas de tentativas de greenwashing, por exemplo. Acredita que algo não deveria estar aqui? Fique à vontade para nos procurar.
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