Cobertura internacional

O azul de que tudo depende e o futuro ancestral

“Sem azul, não há verde. Sem água, não há vida. A economia azul é a fonte dos nossos alimentos, da energia, da vida.” Luis Pietro, fundador do MadBlue

Na semana passada, fui até Madrid para cobrir o MadBlue Summit, um evento que promoveu debates sobre a economia azul (que fomenta o desenvolvimento econômico por meio da preservação dos ecossistemas marinhos e da sustentabilidade ambiental) e reuniu quase 60 startups de impacto socioambiental e suas soluções e inovações para os principais desafios de desenvolvimento sustentável do presente e do futuro.

Os especialistas e ativistas que subiram ao palco da Escola de Arquitetos em que o evento foi realizado falaram sobre temas como:

  • O que é capital natural marinho e por que é importante investir nele;
  • Recursos genéticos marinhos;
  • Blue superfoods (alimentos de origem marinha que estão ganhando cada vez mais atenção globalmente);
  • Energia marinha.

Ao longo do dia, fiz muitas anotações sobre conceitos e dados que inicialmente planejava transformar em uma análise aprofundada sobre como olhamos para os recursos naturais marinhos. Mas aos 45 minutos do segundo tempo, o meu planejamento de cobertura mudou completamente.

A Declaração Oceânica Māori e os três princípios básicos para proteger a natureza e combater as mudanças climáticas

Na sessão de encerramento do primeiro dia de evento, Luis Pietro convidou a plateia a fazer perguntas, e veio dali o grande momento do dia para mim.

Com o microfone em mãos, um participante contou que tinha lido um artigo escrito por um professor da Universidade de Harvard em que ele dizia que o grande desafio para avançarmos não apenas na proteção dos oceanos, mas também na contenção da crise climática, é político.

Com base nisso, ele perguntou a Carlos Duarte – importante biólogo marinho e professor espanhol – se havia alguma iniciativa política que efetivamente já estivesse fazendo a diferença.

Aotearoa Mere Takoko (vice-presidente da Conservation International ), Dr. Carlos Duarte (cientista-chefe da Blue Green Future), Ariki (da Kaumaiti Nui Tou Travel) e Ralph Chami (cofundador da Blue Green Future que também esteve no MadBlue Summit 2024)

O professor Duarte contou que se inspira e que deposita sua esperança em iniciativas como a dos povos indígenas do Pacífico, que no fim de março assinaram a He Whakaputanga Moana, também conhecida como Declaração Oceânica Māori.

O tratado reconhece as baleias como “pessoas jurídicas” com direitos coletivos – incluindo o direito à liberdade de movimento, um ambiente saudável e a capacidade de prosperar ao lado da humanidade – e, assim, amplia sua proteção (e, consequentemente, a proteção dos oceanos).

 

“Depois de décadas de disputa, os povos indígenas Māori recuperaram seus direitos sobre a terra e o mar e irão administrá-los para curá-los em um projeto baseado em três princípios dos quais deveríamos aprender: nós somos parte da natureza, tudo está conectado e para receber, é preciso dar”, disse Carlos Duarte.

“A conexão entre o oceano e a terra flui através dos rios, eles sabem disso. Por outro lado, em nosso mundo tudo está compartimentado: oceanos, atmosfera, terra, florestas, agricultura… dividimos tudo em pequenas parcelas que depois não conseguimos encaixar nem estabelecer conexões”, lamentou.

O recado que fica é simples, mas poderoso: a gente pode desenvolver tecnologias de ponta e pensar em soluções inovadoras, mas o segredo, mesmo, é olharmos atentamente à natureza e aos que a respeitam. É o futuro ancestral.

Na última edição da nossa newsletter falei mais sobre o MadBlue. Leia – e assine gratuitamente – clicando aqui.


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Publicado por
Natasha Schiebel

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