ODS

Mais árvores, (bem) menos mortes por calor

Com base em dados de 830 cidades, estudo estima que 1,16 milhão de mortes por calor poderiam ter sido evitadas com mais vegetação em áreas urbanas entre 2000 e 2019

Entre 2000 e 2019, a exposição ao calor foi responsável por cerca de 500 mil mortes por ano no mundo, segundo estimativa publicada na revista The Lancet Planetary Health. As projeções apontam que, nos cenários mais extremos de aquecimento, a mortalidade por calor pode chegar a 16% do total de óbitos em regiões como o Sudeste Asiático até o fim do século.

Para entender como o aumento de áreas verdes poderia ajudar a enfrentar esse desafio, pesquisadores da Universidade Monash, da Austrália, analisaram dados de 11.534 áreas urbanas em 53 países. O estudo estimou que, se a vegetação nessas cidades tivesse aumentado em 30% durante aquele mesmo período de 20 anos, 1,16 milhão de mortes por calor poderiam ter sido evitadas.

O levantamento avaliou conjuntamente dois efeitos da vegetação urbana: a capacidade de reduzir a temperatura ambiente (efeito de resfriamento) e a de atenuar o impacto do calor extremo sobre a saúde (efeito modificador). Isso torna o estudo o mais abrangente já feito sobre o tema.

Sabe aquela sensação de bem-estar ao caminhar sob a sombra das árvores em um dia quente? Pois é, não se trata “apenas” de conforto, é uma questão de saúde pública.

O impacto direto da vegetação sobre a mortalidade

De acordo com o relatório Estimating the urban heat-related mortality burden due to greenness: a global modelling study, as árvores e plantas urbanas ajudam a reduzir a temperatura ambiente ao promover sombra, aumentar a evapotranspiração e melhorar a circulação de ar. 

Os autores também explicam que áreas verdes podem proporcionar melhora da saúde mental, aumento da atividade física, mais interação social e redução da poluição do ar. Segundo os pesquisadores, esses fatores podem ainda reforçar a proteção contra os efeitos extremos do calor. 

No entanto, o impacto das áreas verdes urbanas varia bastante conforme o tipo de clima, nível de renda e composição etária de cada cidade: 

  • Cidades com clima continental, maior proporção de idosos ou maior Produto Interno Bruto per capita tiveram as maiores reduções percentuais nas mortes por calor.
  • Já cidades de baixa renda, com alta vulnerabilidade social, mostraram menor ganho relativo com o aumento da vegetação. Os autores destacam que, nesses contextos, é preciso integrar políticas de ampliação das áreas verdes urbanas com estratégias mais amplas de saúde pública e adaptação climática.

A pesquisa também alerta para limitações – por exemplo, o modelo não distingue tipos de vegetação nem avalia a distribuição de áreas verdes dentro das cidades, o que pode influenciar fortemente os resultados reais.

Os resultados reforçam o papel da vegetação urbana como infraestrutura de saúde pública diante das mudanças climáticas. Ao quantificar, pela primeira vez, tanto o efeito de resfriamento quanto o impacto direto sobre a mortalidade, o estudo oferece evidências concretas de que estratégias baseadas na ampliação das áreas verdes podem salvar vidas em escala global. Não se trata apenas de arborizar as cidades, mas de incorporar a vegetação como parte das políticas de adaptação ao calor extremo.

Leia também:
Cidades europeias apostam em soluções baseadas na natureza para enfrentar mudanças climáticas


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Redação A Economia B

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