Entrevistas

O que é justiça climática e o que a sua empresa tem a ver com isso?

Entenda o conceito de justiça climática e saiba o que o setor privado tem a ver com essa causa cada dia mais urgente

Em todo verão a cena se repete, em diferentes partes do Brasil: a temporada de chuvas intensas chega acompanhada de histórias de tristezas evitáveis. 

Em Bangladesh, país apontado como o mais vulnerável do mundo ante as mudanças climáticas, a maior enchente em mais de 100 anos, que aconteceu entre maio e junho deste ano, afetou a vida de 7,2 milhões de pessoas e causou 52 mortes

Na Europa, o verão de 2022 teve ondas de calor extremo e temperaturas recordes em diversos países. Mais de mil pessoas morreram e mais de 17 mil tiveram que ser evacuadas em razão de incêndios florestais. 

Segundo o relatório Interconnected Disaster Risks, desastres ambientais tiraram a vida de 10 mil pessoas e custaram mais de 280 bilhões de dólares só entre 2021 e 2022. E os autores dessa publicação científica do Instituto para o Meio Ambiente e Segurança Humana da ONU não são otimistas. Segundo eles, os eventos climáticos serão cada vez mais frequentes e intensos.

O que é justiça climática?

Essas histórias e dados são o pano de fundo para explicar o conceito de justiça climática, agenda que se conecta com o impacto das mudanças climáticas na vida das pessoas. Casos como esses, aliás, ocorrem no mundo todo. Porém, acontecem especialmente – e com maior intensidade – em países em desenvolvimento. 

Priscilla Santos

É uma repetição do ciclo vicioso consequente das desigualdades. “Um habitante de um dos países mais desenvolvidos da Europa não vai ser afetado pelas mudanças climáticas como um habitante de periferia no Rio de Janeiro ou um indígena”, diz Priscilla Santos, advogada, mestra em política ambiental e especialista em financiamento climático e desenvolvimento sustentável para a Amazônia.

Há mais de 15 anos Priscilla trabalha para fomentar o financiamento climático e a cooperação internacional em favor do desenvolvimento sustentável.

Na visão dela, para se alcançar a justiça climática é preciso “entender os diferentes como diferentes nas suas vulnerabilidades e, principalmente, pensar em intervenções efetivas para diminuir desigualdades estruturais e a vulnerabilidade desses grupos específicos diante dos efeitos das mudanças climáticas”.

“A inação tem um preço”

Quando se conecta justiça climática e setor privado, é impossível não falar sobre os fatores ESGAfinal, ainda que com os tropeços naturais de algo que não lhe é natural e com os não tão poucos casos de greenwashing, o mercado começa a entender a importância desse assunto e de caminhar para se adaptar aos novos contextos ligados a ele.

E não podia ser diferente, pois, como destaca Priscilla, o setor privado não pode ser visto como alheio à sociedade, “simplesmente porque não é”. “Como o setor privado é muito mobilizado por preço, valor, retorno financeiro, risco de investimento, não existe a opção de ficar parado. É uma resposta à realidade. A inação tem um preço”, lembra Priscilla. 

Além disso, a especialista acrescenta: “se o setor privado colabora para, de fato, redirecionar investimentos para novas tecnologias, para o potencial de jovens e para iniciativas que garantam diversidade e inclusão dentro do negócio, vai ganhar com isso”.

A Economia B Entrevista #5:
O que é justiça climática e o que sua empresa tem a ver com isso?

Conheci a Priscilla durante um curso sobre Justiça Climática oferecido pela Rede Brasil do Pacto Global que fiz há alguns meses. Ela foi uma das professoras. Gostei tanto da aula que a convidei para uma entrevista.

Natural de Belém-PA, Priscilla construiu uma carreira plural, global e de alto impacto. Sua trajetória inclui desde planejar e organizar o TEDx Ver-o-Peso, em Belém, há mais de 10 anos; atuar como pesquisadora sobre mudanças no uso da terra, governança florestal e financiamento climático na Amazônia; ser membro de conselho na Universidade de Oxford; trabalhar no Governo Federal do Brasil no desenvolvimento de políticas de adaptação econômica para as mudanças climáticas; ser consultora e mentora de ONG e organizações globais; e muito mais.

Como pesquisadora, ela publicou papers sobre mecanismos de financiamento para a redução de emissões de carbono, desmatamento e degradação florestal, entre outros temas. 

Atualmente, Priscilla é consultora para o financiamento climático em organizações como a Comissão Econômica da ONU para a América Latina e Caribe e outras entidades internacionais, além de mentora do Youth Climate Leaders e da Escola de Geografia e Meio Ambiente da Universidade de Oxford.

Justiça climática sob diferentes perspectivas

Priscilla é a convidada do 5º episódio de A Economia B Entrevista, programa em que conversamos com pessoas que estão liderando a transformação da economia sobre assuntos essenciais para o setor corporativo em tempos de emergência climática, ESG e negócios de impacto.

Baseada em Roma, ela conta, por exemplo, como a Itália conseguiu fazer com que as mudanças climáticas se tornassem uma pauta comum ao país – da extrema direita à extrema esquerda –, e sugere caminhos para o Brasil.

Por ter uma vida dedicada à justiça climática, Priscilla tem falas fortes para explicar a urgência em que vivemos. A justiça climática é um dos maiores desafios de nossa geração, e ela nos ajuda a entender isso. “Temos um longo processo para convencer os brasileiros de que as mudanças climáticas estão afetando suas vidas. Por mais que já falte água na torneira e a conta de luz esteja caríssima, esse nexo causal entre isso e o clima não está claro para o brasileiro médio”, analisa.

Assista!

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João Guilherme Brotto

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