ESG

ESG e relatórios de sustentabilidade: Quando divulgar informações demais é um problema

Filipe A. Oliveira*, ESG and Sustainability Executive Manager da Azul Linhas Aéreas, fala sobre armadilha do over-disclosure em relatórios de sustentabilidade

Quero falar sobre um problema comum em relatórios de sustentabilidade: a divulgação excessiva de informações que na maioria das vezes não são relevantes, pois não ajudam os stakeholders a tomarem decisões ou formarem opinião em relação às estratégias ESG.

Gosto de chamar as informações em excesso de informações não materiais. Como materialidade é um conceito amplo, destaco que, nesse caso, refere-se a informações que não têm um impacto significativo no desempenho da empresa (financeiro, ambiental, social ou de governança). Por exemplo: 

1 – Meio ambiente

Uma empresa de energia que opera usinas hidrelétricas divulga informações e detalhes sobre um projeto de economia de papel nos escritórios e fala pouco sobre os impactos de suas operações na biodiversidade aquática.

2 – Social

Uma empresa da indústria têxtil que tem uma cadeia de fornecedores complexa que emprega muitas pessoas em diversas regiões fala extensivamente sobre seu programa de voluntariado corporativo, mas não dá informações de como atua para combater trabalho escravo e infantil na sua cadeia de fornecedores.

O principal problema com a divulgação de informações não materiais é que elas tornam os relatórios de sustentabilidade muito extensos, confusos, e não ajudam o leitor a entender a estratégia de sustentabilidade da empresa.

Essa névoa sobrecarregada de informações dificulta inclusive a comparabilidade: duas empresas do mesmo setor e indústria podem ter suas informações ESG tão diferentes e confusas que ao ler e comparar os relatórios de sustentabilidade, os stakeholders têm dificuldade de saber quem está indo bem e quem não está.

E por que isso importa no mundo ESG?

Imagem: criada digitalmente no Midjourney

Eu gosto de dizer que ESG é uma ferramenta. Uma ferramenta que nasceu no universo financeiro para incorporar aspectos sociais, ambientais e de governança no mercado de capitais.

Pois bem, se os stakeholders financeiros (bancos, investidores, fundos de pensão etc,) não conseguem ou têm dificuldades em comparar informações ESG das empresas (o over-disclosure é uma das razões), a integração de aspectos ambientais, sociais e de governança no processo de investimento tende a ser prejudicada, e o apetite para desenvolver ferramentas de integração ESG por parte dos investidores tende a diminuir.

Falei em um artigo no LinkedIn sobre a importância da padronização das metodologias de ratings ESG e como isso ajudaria a incentivar as empresas a reportar informações materiais.

É um processo em amadurecimento, mas enquanto isso não se estabiliza, empresas que reportam corretamente seus indicadores materiais tendem a demonstrar para os agentes do mercado de capitais que possuem um processo de identificação e controle do que é importante para seu negócio (riscos e oportunidades).

Por isso recomendo a todos os amigos gestores de Sustentabilidade e ESG que garantam um processo de materialidade muito robusto nas instituições que atuam.

Nota dos editores: Bons exemplos de relatórios de sustentabilidade

Pedimos para o Filipe complementar o texto sugerindo bons exemplos de relatórios de sustentabilidade. Ele indicou os reports da EDP Brasil, Suzano, Renner e Ørsted (internacional). Por fim, recomendamos a leitura desta reportagem que traz uma entrevista com Rafael Tello, diretor de sustentabilidade da Ambipar, além de outras cinco indicações de relatórios de sustentabilidade.

*Esse texto foi publicado originalmente no LinkedIn de Filipe A. Oliveira
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