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Telhados verdes transformam pontos de ônibus em aliados da resiliência climática

Abrigos com vegetação reduzem temperatura em até 22°C, absorvem milhares de litros de água da chuva e aproximam a natureza da rotina das cidades

Esperar o ônibus sob o sol escaldante pode ser torturante. Mas uma nova geração de abrigos promete transformar essa experiência cotidiana em algo bem mais agradável – e benéfico para o meio ambiente.

Em várias cidades do mundo, pontos de ônibus estão ganhando “telhados verdes” (também conhecidos como telhados vivos): coberturas com vegetação que funcionam como pequenos jardins suspensos no meio da paisagem urbana. 

Essas estruturas seguem um padrão de instalação que envolve cinco elementos principais: uma base rígida capaz de suportar peso extra; uma barreira para impedir a penetração das raízes; um sistema de drenagem que retém e libera água de forma gradual; solo especial, mais leve e com boa capacidade de retenção; e, por fim, a vegetação, geralmente composta por espécies nativas. 

Gráfico produzido pela prefeitura de Boston mostra como os telhados verdes são montados

Essas plantas não apenas resistem bem em condições extremas, mas também atraem abelhas, borboletas e pássaros, fortalecendo a biodiversidade local.

Na prática, mais do que uma novidade estética, essas estruturas oferecem alívio real contra o calor extremo e ajudam as cidades a enfrentar mudanças climáticas.

Benefícios dos telhados verdes

Foto: Barbra Verbij/Clear Channel

Segundo a EPA (Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos), telhados verdes podem reduzir a temperatura da cobertura em 30 a 40 graus Fahrenheit (16 a 22°C) em comparação com estruturas convencionais.

O segredo está na evapotranspiração: as plantas retêm água o tempo suficiente para que ela evapore gradualmente, criando um efeito de resfriamento natural. Isso ajuda a combater as “ilhas de calor urbanas” – fenômeno em que áreas densamente construídas ficam significativamente mais quentes que as áreas rurais ao redor.

Ao mesmo tempo, durante tempestades, esses pequenos jardins urbanos se tornam verdadeiras esponjas. De acordo com a prefeitura de Boston, cada telhado verde pode absorver até 5.700 litros de água da chuva numa precipitação de 2,5 centímetros – o equivalente a uma chuva que dura cerca de uma hora. Essa capacidade reduz drasticamente o escoamento superficial que sobrecarrega sistemas de drenagem urbana e causa alagamentos.

Telhados verdes pelo mundo

Foto: Barbra Verbij/Clear Channel

A ideia de transformar os pontos de ônibus em “abrigos verdes” começou a ganhar força nos Países Baixos, onde a preocupação com o declínio das populações de abelhas levou à criação de verdadeiros “corredores de polinizadores” urbanos.

Em Utrecht, cidade pioneira no movimento, foram instalados 316 abrigos verdes. Hoje, os Países Baixos já contam com mais de 700 abrigos desse tipo. Em pouco tempo, a iniciativa se espalhou pela Europa e chegou a países como Japão, Cingapura, Canadá e, mais recentemente, Estados Unidos.

Na cidade de Boston, por exemplo, 30 pontos de ônibus receberam telhados verdes no verão de 2024, tornando-se o maior projeto desse tipo no país.

Como explica Zoe Davis, gerente de projetos de resiliência climática da cidade, a escolha de onde os telhados verdes foram instalados não foi aleatória. “Priorizamos instalar telhados verdes onde calor extremo, vulnerabilidade social e desinvestimento histórico se sobrepõem”, disse em palestra no TEDx Boston

Segundo estimativas da prefeitura, se Boston equipasse todos os seus 8 mil pontos de ônibus com telhados verdes, isso representaria 7 hectares de área verde – equivalente a 13 campos de futebol espalhados pela metrópole. O impacto coletivo de um espaço desse tamanho poderia reter até 45 milhões de litros de água da chuva em cada tempestade de intensidade moderada – volume suficiente para abastecer uma cidade de 200 mil habitantes por um dia.

Além dos benefícios ambientais, Zoe destaca que projetos como esse também criam oportunidades econômicas. Trabalhando com organizações como Youth Build Boston, o programa prepara jovens de comunidades carentes para atuar na economia verde – setor que deve criar mais de 24 milhões de empregos globalmente até 2030. “São pequenos passos como cultivar telhados verdes em abrigos de ônibus que podem se acumular e gerar grandes impactos para nossas cidades, comunidades e meio ambiente”, observa. 

Com propostas de expansão para outras cidades americanas, os abrigos verdes demonstram como intervenções urbanas aparentemente modestas podem gerar transformações significativas.

Leia também:
Adaptação climática na prática: os pontos de ônibus climatizados de Madri


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Redação A Economia B

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