Cobertura internacional

5 prioridades para promover mudanças sistêmicas

Relatório lançado pelo ChangeNOW em parceria com a KPMG indica caminhos para acelerar mudanças urgentes em cinco áreas prioritárias: adaptação climática, transição energética, justiça social, educação e biodiversidade

Pelo segundo ano consecutivo, A Economia B foi até Paris para cobrir o ChangeNOW, maior evento de soluções que respondem aos principais desafios da humanidade. 

Em 2024, um dos destaques do evento foi o lançamento da primeira edição do Earth Action Report, uma iniciativa conjunta do ChangeNOW e da KPMG que apresentou 11 prioridades para impulsionar mudanças sistêmicas diante dos desafios ecológicos e sociais mais urgentes da nossa era. Falamos sobre ele neste artigo.

Este ano, uma nova edição do relatório ajudou a orientar os debates do evento.

Baseado na contribuição de mais de 100 especialistas de 27 países, o Earth Action Report 2025 atualiza as prioridades para promover mudanças sistêmicas, identifica lacunas de maturidade e reforça a urgência de acelerar transformações reais – especialmente no que diz respeito à adaptação climática e à justiça social.

→ O relatório na íntegra, em inglês, está disponível aqui.

As prioridades de 2025 e recomendações práticas

A seguir, detalhamos as cinco prioridades centrais identificadas pelo Earth Action Report 2025 e, para cada área, apresentamos as principais recomendações práticas para ação e implementação de soluções concretas.

Adaptação às mudanças climáticas

Foto de Harrison Moore na Unsplash

As crescentes temperaturas globais e a frequência de eventos climáticos extremos – como secas prolongadas, enchentes devastadoras e ondas de calor recorde – têm exposto comunidades, sistemas agrícolas e infraestruturas críticas a riscos sem precedentes.

Para responder a esses desafios, o Earth Action Report recomenda:

  • Aumentar investimentos públicos e privados em adaptação;
  • Fortalecer a infraestrutura resiliente ao clima;
  • Garantir segurança alimentar por meio de coalizões público‑privadas.

Histórias para inspirar

#1 No Laos, o PNUMA e o Fundo Verde para o Clima destinam US$ 11,5 milhões para restaurar pântanos e riachos urbanos em quatro cidades. Além de devolver áreas verdes à paisagem, os canais revitalizados regulam o fluxo de água e protegem 700 mil pessoas contra inundações, mostrando que adaptação também é regeneração.

#2 O conceito de “cidade‑esponja” vem ganhando espaço na China. Cada vez mais municípios investem em pavimentos permeáveis, jardins de chuva e telhados verdes que absorvem tempestades antes que se transformem em enchentes. Wuhan fez escola; hoje Pequim, Xangai e Shenzhen expandem o modelo, enquanto Berlim, Viena e Leeds adaptam a ideia ao clima europeu.

#3 Desde 2011, a Sustainable Rice Platform (SRP), sediada em Bangcoc (Tailândia), articula governos, empresas e ONGs para tornar o arroz – base alimentar de metade do planeta – mais sustentável. 

Já implementada em grandes polos arrozeiros da Tailândia, Vietnã, Índia e Paquistão, e em expansão para a Tanzânia e outros países da África Oriental, a iniciativa coleciona resultados que falam por si: 150 mil agricultores viram a renda subir 10‑20%, gastam até 20% menos água e cortam emissões de metano em 50%. Cada safra, seja no delta do Mekong ou no vale do Kilombero, prova que adaptação climática e segurança alimentar podem crescer no mesmo campo.

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Transição energética e redução da dependência de combustíveis fósseis

Foto de Karsten Würth na Unsplash

Embora painéis solares e turbinas eólicas se multipliquem pelo mundo, 80% da eletricidade global ainda nasce do petróleo, do gás e do carvão. O Earth Action Report mostra que a virada depende de ações coordenadas, do nível local ao global. Neste sentido, o relatório destaca quatro ações‑chave: 

  • Implementar roteiros climáticos municipais para fomentar o envolvimento social;
  • Aumentar a sobriedade energética por meio da participação dos usuários;
  • Desenvolver sistemas de energia off‑grid para acelerar a transição em áreas rurais;
  • Ampliar a voz do consumidor para impulsionar o desenvolvimento de energias renováveis.

Histórias para inspirar

#1 Istambul (Turquia), escolhida pela EU Mission 100 Climate‑Neutral Cities, decidiu cocriar seu roteiro climático com moradores, universidades e empresas. A meta é ousada: neutralizar emissões de 16 milhões de habitantes até 2030 tornando prédios mais eficientes e aquecidos por fontes limpas. 

#2 A mesma lógica de participação move a “sobriedade energética” testada em Dijon e Angers (França): sensores detectam movimento e acendem postes apenas quando necessário, cortando cerca de 60 % do consumo sem recorrer a LEDs pouco recicláveis – uma economia que a população percebe na conta de luz municipal.

#3 Longe dos centros urbanos, o desafio é garantir que a transição não deixe ninguém para trás. Na África rural, a ONG SEDA e a USAID bancaram o risco inicial de minirredes solares off‑grid. O modelo amadureceu; hoje, 60 milhões de pessoas acendem lâmpadas e carregam celulares graças a sistemas fora da rede tradicional, prova de que descentralizar é, muitas vezes, acelerar.

#4 Nos Estados Unidos, mais de 400 empresas reunidas na Clean Energy Buyers Association representam um quinto da Fortune 500 e pressionam legisladores por regras que facilitem contratos de energia 100% renovável. Quando gigantes como Apple e Meta anunciam metas de eletricidade limpa para 2030, sinalizam aos investidores – e aos eleitores – que o futuro dos negócios já conta com quilowatts de baixo carbono.

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Transição justa e equidade social

Foto de Elyse Chia na Unsplash

Mudanças climáticas e degradação ambiental escancaram desigualdades históricas: falta de água potável, energia confiável e alimentação adequada ainda atingem milhões. O Earth Action Report aponta três ações‑chave para que a transição justa seja, de fato, justa: 

  • Para além dos custos imediatos: integrando os benefícios econômicos mais amplos dos investimentos em sustentabilidade;
  • Sustentabilidade liderada por comunidades: fortalecendo a segurança energética e a justiça social;
  • Inovando mecanismos de financiamento inclusivo.

Histórias que inspiram

#1 Na Escócia, a plataforma Local Energy Scotland oferece apoio técnico, rotas de financiamento e compra compartilhada de turbinas e painéis solares. Desde 2013, já ajudou 900 comunidades a instalar cerca de 600 MW de capacidade própria. A receita anual – £25 milhões – volta para projetos locais de moradia e transporte. 

#2 A Water.org mobilizou US$ 4,8 bi em microcrédito para água e saneamento no Sul Global. Mais de 55 milhões de pessoas instalaram torneiras ou banheiros com empréstimos médios de US$ 200 e 99% de adimplência, provando que impacto social pode ser financeiramente sustentável. 

#3 No Canadá, o Carbon Price Rebate devolve 90% da arrecadação do imposto de carbono diretamente às famílias. Um lar médio recebe CA$ 386/ano, valor superior ao acréscimo na conta de luz, o que torna a precificação popular e progressiva.

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Educação e conscientização

Imagem: Zahara Abdul/ Unicef

Sem alfabetização climática, não há transição que se sustente. Por isso, o Earth Action Report elenca quatro prioridades pedagógicas: 

  • Garantir o acesso à educação para todos;
  • Integrar as mudanças climáticas aos currículos globais e à capacitação profissional;
  • Aproveitar a tecnologia para educação climática e transparência
  • Navegar pelas informações climáticas na era da inteligência artificial generativa

Histórias que inspiram

#1 Em Bangladesh, as Boat Schools da BRAC navegam pelos rios do delta equipadas com painéis solares, tablets e internet via rádio. São 100 barcos‑escola que atendem 14 mil crianças por ano, garantindo aulas mesmo durante as monções. 

#2 Na Europa, a rede Climate‑KIC conecta universidades, empresas e governos, formou 100 mil alunos e incubou mais de 400 startups climáticas que já captaram €2,5 bi em investimentos.

#3 O programa Solar Mamas, do Barefoot College, capacita mulheres rurais analfabetas a se tornarem engenheiras solares em seis meses. Desde 2008, três mil mulheres se graduaram em 96 países, cada uma eletrificando cerca de 50 casas em sua aldeia.

#4 A estratégia nacional de alfabetização midiática da Finlândia inclui módulos obrigatórios de “checagem climática”. Desde 2014 o país lidera o índice europeu de resiliência à desinformação, com 70% dos jovens capazes de identificar fake news ambientais.

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Proteção da biodiversidade e dos ecossistemas

Foto de Coralie Meurice na Unsplash

Com 1 milhão de espécies ameaçadas, preservar e restaurar habitats não é luxo – é infraestrutura de vida. O Earth Action Report resume a missão em três passos: 

  • Alinhar os sistemas financeiros às metas de biodiversidade;
  • Transformar as práticas agrícolas para empoderar os agricultores como guardiões da biodiversidade;
  • Mudar os hábitos de consumo alimentar;
  • Ampliar as soluções baseadas na natureza.

#1 A Costa Rica virou manual de restauração ao remunerar produtores que mantêm ou ampliam cobertura florestal: o programa de Pagamentos por Serviços Ambientais já reverteu 60 % do desmatamento histórico e reduziu a pobreza rural, mostrando que floresta em pé paga a conta.

#2 A iniciativa Giving to Amplify Earth Action (GAEA), do Fórum Econômico Mundial, mobiliza parcerias público‑privadas‑filantrópicas para destravar os US$ 3 tri por ano necessários à restauração da natureza e à meta de emissões líquidas zero. Ao usar capital filantrópico para reduzir riscos, torna investimentos em biodiversidade mais atraentes a governos e empresas. 

#3 A Sustainable Ocean Alliance (SOA) já financiou 470 soluções oceânicas em 83 países, destinando US$ 4,8 mi em investimentos e subsídios que fortalecem startups e comunidades na construção de uma economia azul regenerativa.

Essas histórias mostram que um futuro diferente é possível, mas que depende de esforço coletivo e vontade política para se tornar realidade. Porém, como disse Mayada Adil, Líder Jovem da ONU para os ODS ao ChangeNOW, “os formuladores de políticas esquecem que as políticas não são só para o interesse de hoje, mas para as gerações futuras. Eles esquecem a perspectiva de longo prazo e a interconexão dessas questões”.

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Redação A Economia B

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