O efeito borboleta da sustentabilidade: como mudanças cotidianas podem criar um mundo regenerativo

Descubra como ações individuais podem ganhar escala e transformar a maneira como comemos, viajamos, compramos e investimos, e conheça 11 soluções que mostram, na prática, como hábitos cotidianos podem desencadear transformações sistêmicas

A Teoria do Caos alega que sistemas complexos são sensíveis a pequenas variações iniciais e capazes de provocar grandes mudanças no futuro – um fenômeno conhecido como ‘efeito borboleta’. 

No universo da sustentabilidade, essa metáfora ganha novo significado: assim como o bater das asas de uma borboleta pode desencadear tempestades distantes, pequenas ações do nosso dia a dia têm o poder de gerar impactos ambientais e sociais transformadores.

Reduzir o consumo de carne, evitar viagens de avião, economizar energia em casa e escolher melhor onde investir o próprio dinheiro são algumas das atitudes que, quando combinadas, podem reduzir  a pegada de carbono pessoal e impactar o resultado coletivo desse cálculo. 

E há uma série de empresas pelo mundo que atuam justamente para tornar isso possível e escalável…

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Por que a dieta baseada em plantas é uma solução climática?

#1 Skin Gourmet
(Gana)

Foto: Divulgação

A Skin Gourmet é uma marca ganesa que transforma ingredientes selvagens em cosméticos crus, naturais e artesanais, como manteigas corporais, óleos e sabonetes sem aditivos industriais ou plásticos. Segundo a empresa, seus produtos são elaborados de forma tão pura que é possível até comê-los!

A marca nasceu com o objetivo de combater o desperdício de recursos locais e promover a inclusão econômica de comunidades rurais, especialmente de mulheres. 

Ao valorizar saberes tradicionais, adquirir insumos diretamente de pequenos produtores e manter toda a produção em Gana, a empresa constrói uma cadeia de valor justa, transparente e voltada para o desenvolvimento sustentável da região.

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#2 ecoNow
(Turquia)

Imagem: Divulgação

O ecoNow aposta na força da coletividade e na gamificação para transformar hábitos sustentáveis em atitudes diárias. 

Por meio de um aplicativo baseado em gamificação, os usuários são incentivados a realizar pequenas ações que geram impacto positivo no planeta (como reciclar, economizar energia, usar transporte público ou cuidar de animais). Ao comprovarem essas atividades, acumulam pontos que podem ser trocados por benefícios, produtos ou doações sociais.

Inspirado no comportamento colaborativo das formigas, o app propõe que a luta contra a crise climática seja encarada como uma ação coordenada, em que milhares de indivíduos agem em conjunto como um “superorganismo”. 

Em vez de competição, o ambiente é de colaboração – é possível acompanhar o impacto ambiental gerado por amigos e outros usuários, além de medir e compartilhar sua própria contribuição.

Ao integrar recompensas, senso de comunidade e rastreamento de impacto, a plataforma busca transformar pequenas atitudes em grandes mudanças. É o efeito borboleta em ação.

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#3 Good4Trust.org
(Turquia)

Foto: SAM – Memento Photo

E se comprar virasse um gesto político?

Essa é a proposta da Good4Trust.org, uma plataforma criada na Turquia que une consumo consciente, democracia participativa e ecologia regenerativa em um mesmo sistema. Não se trata apenas de um marketplace ético, mas de uma comunidade viva, onde cada ação ajuda a transformar a economia por dentro.

Na prática, cada pessoa que entra para a plataforma recebe uma “semente” simbólica. Ao comprar de produtores responsáveis, compartilhar boas ações ou apoiar causas ambientais, essa semente cresce e vira broto, depois caule, até se transformar em árvore. E quanto maior a árvore, maior a voz da pessoa nas decisões da própria plataforma. Sim, os participantes ajudam a governar a comunidade – inclusive votando nos novos produtores que podem entrar no sistema.

Os produtores são selecionados com base em um compromisso ético: devem declarar abertamente como produzem e como respeitam a natureza, os direitos humanos e as relações de trabalho. Não há auditorias externas, mas há confiança mútua, valores compartilhados e uma governança coletiva feita por um conselho. Caso alguém descumpra os princípios, pode ser removido.

Em 2024, mais de 6 milhões de liras turcas foram movimentadas dentro da plataforma – o equivalente a aproximadamente US$ 153 mil ou R$ 854 mil. Esse valor ajudou a fortalecer pequenos empreendimentos.

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#4 FairTrotter
(França)

Foto: Vincent MACHER

A FairTrotter é uma agência de turismo que enxerga as viagens como ferramentas de regeneração do planeta, dos territórios visitados e de quem viaja.

A empresa organiza expedições que combinam trilhas a pé, passeios de bicicleta, canoagem, yoga e hospedagens sustentáveis certificadas. Os roteiros da Fairtrotter emitem até nove vezes menos CO₂ do que uma viagem convencional de avião e são pensados para gerar encontros, aprendizado e conexão com o território.

Na jornada de sete dias pela região francesa de Vendée, por exemplo, os viajantes percorrem paisagens bucólicas de florestas, rios e mar, acampam sob as estrelas, cozinham em microfazendas e aprendem técnicas de bushcraft – um conjunto de saberes práticos de vida ao ar livre, como acender fogo, montar abrigos e se orientar na natureza. Além disso, ao longo do caminho, eles encontram iniciativas de permacultura, projetos de biodiversidade e comunidades engajadas na transição ecológica. 

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#5 Halte à l’Obsolescence Programmée
(França)

Foto: SAM – Memento Photo

O movimento Halte à l’Obsolescence Programmée enfrenta a obsolescência programada por meio de ações legais, educativas e colaborativas. 

Ao mobilizar cidadãos, propor legislações, mover processos judiciais e articular empresas em torno do design durável, a iniciativa atua diretamente na raiz do hiperconsumo. Seu objetivo é transformar a durabilidade em um valor cultural, mostrando que o hábito de consertar e prolongar a vida útil dos produtos é um gesto político e ambiental. 

A iniciativa Pare a Obsolescência Programada denuncia que, além de reduzir a vida útil dos produtos, a obsolescência programada estimula a extração excessiva de matérias-primas e a exploração desenfreada dos recursos naturais, o que gera impactos climáticos, sociais e econômicos graves. Para enfrentar esse cenário, o movimento reúne cidadãos, especialistas, legisladores e fabricantes em uma frente comum por um consumo mais responsável e por um modelo econômico global alternativo, mais justo e sustentável.

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#6 Ekip
(França)

Foto: Laure Dns

A Ekip transforma um benefício tradicional (o vale-refeição) em ferramenta de justiça social e ambiental.

Em vez de ser usado em qualquer estabelecimento, o cartão Ekip direciona o poder de compra dos trabalhadores para mais de 4 mil restaurantes e mercados com práticas responsáveis – negócios locais, com critérios éticos, ambientais e sociais. Assim, o que antes era só um almoço apressado vira uma escolha consciente, que fortalece cadeias alimentares mais saudáveis, locais e inclusivas.

Além disso, 1% de cada gasto com o cartão é redistribuído para organizações que combatem a fome e promovem o acesso à alimentação digna. Ao mesmo tempo, o dinheiro que “dorme” nos vales é reinvestido em projetos da Economia Social e Solidária (ESS), como cooperativas, agricultura orgânica ou inovação climática.

A proposta é usar uma atividade da rotina diária para financiar uma transição mais justa.

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#7 The Jungle Dog
(Suíça)

Foto: Laure Dns

Viver de forma mais sustentável pode parecer um labirinto. São muitas decisões, critérios e informações para filtrar – e, às vezes, a vontade de fazer o certo acaba sufocada pela sobrecarga. 

A The Jungle Dog nasceu para ajudar pessoas e empresas a se orientar nesse emaranhado de possibilidades e fazer escolhas que realmente reflitam seus valores.

A plataforma ajuda usuários a descobrir o que realmente valorizam (como bem-estar, justiça social, ética animal ou saúde) e os conecta a marcas, produtos, serviços e práticas que alinhados a esses princípios. O objetivo é facilitar a vida de quem quer consumir com propósito, mas se sente perdido diante de tantas opções e promessas sustentáveis.

Para empresas, a The Jungle Dog oferece recursos para entender melhor seu público, encontrar parceiros sustentáveis e alinhar suas decisões de forma mais transparente e estratégica, atuando como ponte entre negócios e consumidores que compartilham valores e incentivando cadeias de valor mais coerentes, confiáveis e regenerativas.

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#8 Goodvest
(França)

Foto: Laure Dns

A Goodvest oferece soluções de investimento com carteiras alinhadas ao Acordo de Paris – sem combustíveis fósseis, armamentos ou setores poluentes.

Com uma metodologia baseada em dados científicos fornecidos pela Carbon4 Finance (empresa que oferece um conjunto completo de soluções de dados climáticos que abrangem riscos físicos e de transição, bem como a pegada de biodiversidade) e critérios rigorosos de impacto, a Goodvest permite que qualquer pessoa invista em fundos que respeitam limites climáticos e reduzem emissões e perda de biodiversidade. Em média, seus portfólios geram 26% menos carbono e 27% menos impacto negativo sobre ecossistemas do que carteiras tradicionais.

Além disso, o trabalho da Goodvest é importante porque aproxima o mundo das finanças do dia a dia de quem busca coerência entre valores pessoais e decisões econômicas.

Ao democratizar o acesso ao investimento responsável, a Goodvest fortalece o papel do dinheiro como alavanca para a transição ecológica e mostra que investir também pode ser um ato político.

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Leia também:
E se os combustíveis fósseis não fossem subsidiados?

#9 Yoti
(França)

Foto: Antoine MARCEAU

A Yoti é uma associação francesa que coleta, recondiciona e revende brinquedos e jogos usados para promover um consumo mais acessível, circular e inclusivo. Anualmente, a iniciativa evita que milhares de brinquedos em bom estado acabem em aterros ou incineradores.

Mas o impacto da Yoti vai além da ecologia. A associação opera dentro da prisão de Bois d’Arcy, onde criou um canteiro de trabalho para a reintegração social de pessoas privadas de liberdade. Ao oferecer condições dignas de trabalho e formação profissional, o projeto contribui para a redução da reincidência criminal e é reconhecido com o selo PEPS (Produire en Prison), voltado a iniciativas produtivas dentro do sistema prisional francês.

Cada brinquedo passa por triagem, higienização com produtos naturais, verificação de peças, eventuais reparos e um processo completo de catalogação com fotos reais. Ao ressignificar tanto o brinquedo quanto a trajetória de quem o recondiciona, a Yoti mostra que brincar pode ser um ato de transformação ambiental e social.

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#10 Ecodair
(França)

Foto: Divulgação

A Ecodair é uma associação francesa que recondiciona equipamentos de informática e, ao mesmo tempo, promove a inclusão profissional de pessoas em situação de vulnerabilidade. Em suas oficinas, computadores e dispositivos eletrônicos são restaurados por profissionais com deficiência ou em processo de reintegração ao mercado de trabalho.

Com mais de 20 anos de experiência, a Ecodair é reconhecida como Empresa Solidária de Utilidade Social (ESUS) e reúne diferentes estruturas de acolhimento e capacitação – como ESATs (serviços de apoio ao trabalho para pessoas com deficiência), empresas adaptadas, oficinas e empresas de reintegração. Esses espaços oferecem condições de trabalho dignas e acompanhamento para que cada pessoa possa encontrar seu lugar no mundo profissional.

Além de evitar o descarte prematuro de eletrônicos, a Ecodair oferece equipamentos recondicionados de qualidade, com até três anos de garantia e até 50% mais baratos do que os novos. A iniciativa processa cerca de 50 mil equipamentos por ano em suas cinco unidades na França e mais de 70% da equipe é formada por pessoas inseridas em programas de inclusão. 

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Essas dez soluções mostram que o efeito borboleta da sustentabilidade já está em movimento – e que pequenas escolhas podem, sim, gerar grandes transformações.

Mas elas são apenas uma amostra.

Existem muitas outras iniciativas inspiradoras, espalhadas por diferentes áreas, que estão tornando hábitos sustentáveis mais acessíveis e escaláveis. Na nossa cobertura especial sobre o ChangeNOW 2025, já apresentamos dezenas de exemplos como esses. Não deixe de ler:


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Redação A Economia B

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