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ChangeNOW 2025: 10 inovações que provam que a moda pode ser sustentável

ChangeNOW e a moda sustentável – Foto: Vincent MACHER
Foto: Vincent MACHER

De resíduos agrícolas a tinturas naturais, conheça empresas que estão reinventando a moda com soluções sustentáveis e circulares

Em um mundo cada vez mais dominado pelo consumo excessivo e pelas marcas de “fast fashion”, associar moda à sustentabilidade ainda soa como uma utopia.

De acordo com o What Fuels Fashion, relatório desenvolvido pela Fashion Revolution (maior movimento de ativismo de moda do mundo), com base em um estudo das 250 maiores marcas do planeta, 96% das empresas consultadas não assumiram publicamente compromissos com uma transição energética justa que proteja trabalhadores ao longo da cadeia de suprimentos. 

Dessas, apenas quatro marcas atendem ao nível de ambição climática estabelecido pela ONU e quase um quarto sequer divulga informações básicas sobre descarbonização. Além disso, menos da metade das marcas com metas de redução de emissões têm validação da Iniciativa de Metas Baseadas na Ciência (SBTi) e um terço apresenta aumento nas emissões de escopo 3.

Além da baixa transparência, 89% das marcas não informam a quantidade de roupas produzidas anualmente e apenas 11% revelam as fontes de energia utilizadas em suas cadeias. Por fim, embora 58% tenham metas de uso de materiais sustentáveis, a falta de dados energéticos compromete a credibilidade dessas ações.

Ou seja, os dados mostram um setor ainda distante da transformação necessária. Mas há exceções. Iniciativas promissoras vêm ganhando espaço e mostram que é possível alinhar moda, responsabilidade ambiental e justiça social. No ChangeNOW 2025, evento que cobrimos em Paris, em abril, conhecemos algumas dessas iniciativas. 

A seguir, apresentamos dez soluções que chamaram nossa atenção. Essas empresas estão reimaginando a cadeia produtiva da moda e abrindo caminhos para um setor mais responsável.

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Economia circular na prática: 7 soluções em destaque no ChangeNOW 2025

Everdye

ChangeNOW e a moda sustentável – Everdye – Foto- Laure Dns
Foto: Laure Dns

Você sabia que a maior parte das cores usadas pela indústria da moda vem de pigmentos sintéticos derivados do petróleo? 

Além de tóxicos, esses corantes exigem altas temperaturas e grandes volumes de água no processo de tingimento – um dos mais poluentes da cadeia têxtil.

A startup francesa Everdye quer mudar essa lógica. Seus pigmentos de origem biológica, feitos a partir de flores, árvores e minerais, podem ser aplicados em temperatura ambiente, com menos tempo de processamento e até um terço do consumo de água. Tudo isso sem a necessidade de trocar o maquinário das fábricas.

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Peel Lab

ChangeNOW e a moda sustentável – Peel Lab – Foto- Laure Dns
Foto: Laure Dns

Abacaxi costuma ser ingrediente de suco, bolo, sorvete – e, para alguns, até da polêmica pizza havaiana. Mas matéria-prima para couro é novidade – pelo menos para nós.

Pois é isso que a startup japonesa Peel Lab faz: transforma folhas de abacaxi descartadas por fábricas de suco em um material vegetal que imita couro, sem crueldade animal nem impacto tóxico.

Só em 2022, a empresa produziu 800 metros do “couro de abacaxi”, evitando o descarte de 180 kg de resíduos e a emissão de 1.500 kg de CO₂ – o equivalente a mais de 8 mil quilômetros rodados por um carro a gasolina. 

Além de reduzir o desperdício e contribuir para o combate às mudanças climáticas, a Peel Lab oferece serviços de design e produção para marcas interessadas em criar produtos personalizados com couro vegetal. A proposta da empresa é democratizar o acesso a materiais sustentáveis, promovendo uma moda livre de crueldade animal e de substâncias químicas nocivas aos trabalhadores.

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Raddis Foundation

ChangeNOW e a moda sustentável – Raddis Foundation – Foto- Laure Dns
Foto: Laure Dns

Por trás de uma camiseta de algodão, há solo, sementes e gente. A Raddis Foundation atua para regenerar essa base: conecta pequenos agricultores da Índia e da Turquia a marcas globais, criando cadeias de fornecimento que respeitam o ritmo da natureza e o trabalho de quem cultiva.

Em vez de monoculturas exaustivas e insumos químicos, a fundação promove agricultura regenerativa: com sementes não transgênicas, pesticidas naturais e práticas que recuperam a fertilidade do solo. Todo esse esforço se integra a redes circulares de produção, onde cada etapa é pensada para reduzir perdas e emissões.

Além de treinar produtores, a Raddis também atua como elo entre marcas e fornecedores, garantindo transparência e rastreabilidade.

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Snova

ChangeNOW e a moda sustentável – Snova – Foto- Laure Dns
Foto: Laure Dns

O que tequila tem a ver com moda sustentável? Para a Snova, tudo. 

Com sede nos Estados Unidos e atuação no México, essa startup transforma resíduos da produção de bebidas alcoólicas – como o bagaço de agave descartado após a destilação da tequila – em tecidos biodegradáveis, que usam 80% menos água e mantêm a neutralidade de carbono. 

Ou seja, restos orgânicos que antes ficavam no campo, poluindo o solo, gerando metano e degradando a paisagem, viram matéria-prima para uma nova geração de tecidos sustentáveis.

Além da inovação tecnológica, a Snova investe no impacto social. A empresa atua no empoderamento financeiro e no bem-estar de comunidades locais, incentivando o crescimento econômico inclusivo. Seu objetivo é transformar os resíduos de um setor poluente em soluções sustentáveis para a moda e, ao mesmo tempo, promover mudanças sociais positivas.

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Sparxell

ChangeNOW e a moda sustentável – Sparxell – Foto- Laure Dns
Foto: Laure Dns

As cores mais vibrantes da natureza – como as penas de um pavão ou as asas de uma borboleta – não vêm de tintas, mas de estruturas microscópicas que manipulam a luz. 

A Sparxell se inspirou nesse processo para criar pigmentos à base de celulose vegetal, biodegradáveis e de alto desempenho, que dispensam metais, microplásticos e substâncias tóxicas.

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Arda Biomaterials

Arda Biomaterials
Foto: Divulgação Arda Biomaterials

A ideia da ArdaBiomaterials é simples: transformar resíduos de uma indústria em insumo para outra, criando um material durável, escalável e com impacto ambiental muito menor.  Na prática, o que sobra da produção de cerveja e uísque – grãos de cevada que seriam descartados ou usados como ração – vira matéria-prima para o “couro” vegetal criado pela marca. 

O New Grain™ material desenvolvido por essa startup britânica, não utiliza derivados de petróleo nem ingredientes de origem animal, e é resultado de uma tecnologia química que imita a estrutura do couro tradicional usando apenas proteínas vegetais.

A Arda já colabora com marcas de moda como a BEEN London e avança no desenvolvimento de produtos com textura, resistência e estética de alto padrão – sem couro, sem plástico e sem crueldade.

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ER Ocean Research

ChangeNOW e a moda sustentável – ER Ocean Research – Foto- Laure Dns
Foto: Laure Dns

Liderada pelo artista francês Eugène Riconneaus, a ER Ocean Research está transformando biomassa marinha em materiais inovadores e sustentáveis, como fibras, alternativas ao couro e borracha oceânica. Por meio de biomimética, a iniciativa utiliza algas invasoras e resíduos de frutos do mar para criar materiais para a indústria da moda.

O projeto busca moldar alternativas escaláveis e responsáveis, sem o uso de plásticos, ao mesmo tempo em que redefine o papel dos designers, integrando-os desde o início da cadeia de suprimento. 

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PEELSPHERE

ChangeNOW e a moda sustentável – Peelsphere – Foto- Laure Dns
Foto: Laure Dns

Utilizando engenharia de materiais avançada, a PEELSPHERE transforma resíduos de frutas e algas em produtos alternativos ao couro e ao couro sintético que são bonitos, duráveis, versáteis e biodegradáveis, além de 100% recicláveis. Seu design circular e seu compromisso com a sustentabilidade garantem que os materiais possam ser reciclados ou reintegrados aos ecossistemas naturais, contribuindo para um futuro mais regenerativo.

Além de sua inovação em materiais, a PEELSPHERE foca em um ciclo de vida sustentável, com processos de produção que priorizam a eficiência no uso de água, a redução de resíduos e a utilização de biopolímeros responsáveis. 

A empresa também investe em tecnologias energéticas eficientes, uso de fontes renováveis e práticas que minimizam a pegada de carbono, promovendo um impacto positivo na biodiversidade, no combate às mudanças climáticas e na preservação dos recursos naturais.

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SAO Textile

ChangeNOW e a moda sustentável – SAO Textile – Foto- Laure Dns
Foto: Laure Dns

Fundada em 2023, a SAO Textile transforma redes de pesca descartadas (que, feitas de plásticos, demoram séculos para se decompor) em tecidos eco-responsáveis. 

Localizada em Bessan, França, a empresa coleta redes em Sète, um dos principais portos do Mediterrâneo, onde a poluição plástica marinha é um grande problema. A SAO criou um processo mecânico para transformar essas redes em fios 100% reciclados, sem adição de substâncias químicas, contribuindo para a economia circular e redução do impacto ambiental.

A missão da SAO é diminuir os impactos dos materiais sintéticos na moda. A empresa foca na produção ética e local, com todas as etapas realizadas na França, reduzindo o impacto do transporte e usando energia renovável.

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BEGLARIAN FABRICS

ChangeNOW e a moda sustentável – Beglarian Fabrics – Foto- Laure Dns
Foto: Laure Dns

Na indústria da moda, sobra tecido – muito tecido! Especialmente no mercado de luxo, rolos inteiros são deixados de lado por erro de previsão, mudanças de coleção ou excesso de produção. A Beglarian Fabrics recupera esses materiais que seriam descartados e os coloca de volta em circulação.

A empresa garimpa sobras de estoque de alta qualidade, corta, embala e distribui os tecidos para estilistas independentes ao redor do mundo. Com isso, reduz o desperdício, prolonga a vida útil dos materiais e impulsiona a economia circular na moda.

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Enquanto grande parte da indústria segue operando com pouca transparência e alto impacto, essas iniciativas mostram que outros caminhos já estão em curso. São soluções que enfrentam problemas reais – do uso de água à emissão de carbono, do descarte de resíduos ao trabalho justo – e que colocam inovação a serviço de uma transformação possível.

O desafio agora é escalar essas ideias sem perder de vista o que as torna relevantes: o compromisso com uma moda que reconhece (e enfrenta!) seus próprios impactos.

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