Conheça a startup portuguesa Nãm, um projeto de economia circular que transforma borra de café em cogumelos frescos, e que fará parte da nossa Pangeia
Na última edição da nossa newsletter Farol, contamos que o sétimo Estudo B será um guia sobre inovação, tendências e histórias de impacto socioambiental e ação climática no setor de alimentos e bebidas na América Latina (de onde viemos – e para onde sempre olhamos) e Europa (onde parte do nosso time mora).
Estamos na etapa de pesquisa do guia – que, basicamente, consiste em analisar todas as empresas B certificadas nas duas regiões para escolher as histórias que entrarão no relatório e entrevistar profissionais dessas organizações e especialistas do mercado para trazer novas visões e análises.
Por mais que os textos ainda não estejam prontos para serem publicados, a vontade de dividir algumas das nossas descobertas é grande. Então, decidimos fazer isso aqui na newsletter. 🙂
A análise das empresas B portuguesas ficou a cargo do João Guilherme Brotto – cofundador d’A Economia B. E é ele quem solta o primeiro spoiler do Estudo B #7 – Pangeia: onde boas ideias se encontram.
No início deste ano, fui a Paris cobrir o ChangeNOW, principal evento de soluções para o planeta. Voltei de lá fascinado com um case de uma empresa que produzia alimentos a partir do micélio.
Em linguagem de leigo, o micélio é parte “escondida” do cogumelo, que fica embaixo da terra ou dentro do material onde ele cresce, como se fosse sua “raiz”; é uma rede de filamentos finos que cresce no solo ou em materiais como madeira e ajuda a alimentar o cogumelo e decompor matéria orgânica, reciclando nutrientes no ambiente. Aqui tem uma explicação mais detalhada.
Na pesquisa para o Estudo B #7, mais uma vez uma história envolvendo cogumelos chamou minha atenção.
Em Portugal, descobri a Nãm, que se descreve como um projeto de economia circular e uma fazenda urbana de cogumelos que transforma borra de café em cogumelos frescos. A missão da Nãm é revolucionar a maneira como percebemos a agricultura, o gerenciamento de resíduos e a preservação ambiental.
O cultivo de cogumelos está no centro das operações da empresa. Todo o processo é planejado para minimizar o desperdício e maximizar os benefícios ambientais. Segundo a empresa, as 80 toneladas de fertilizante geradas não são descartadas, mas devolvidas ao solo, enriquecendo-o e completando o ciclo de nutrientes.
“Em apenas um ano, nossas operações resultam na remoção de 60.900kg de CO2 da atmosfera. Para colocar em perspectiva, isso é equivalente à quantidade de carbono sequestrada por 6.090 árvores ou à retirada de 1.538 carros das ruas. Esses números não são apenas estatísticas; eles representam nosso compromisso em combater as mudanças climáticas e criar um futuro mais sustentável para as próximas gerações”, diz a marca.
Vamos detalhar essa história no relatório, mas hoje queria dividir a visão do CEO da empresa, Natan Jacquemin.
Ele me disse que acredita que o maior desafio do século XXI é conseguir reconciliar a economia e a ecologia.
“Muitas vezes, quando falamos de proteger a natureza, falhamos em criar valor econômico, e vice-versa. Nós sonhamos em conseguir um modelo de negócio capaz de criar valor econômico e, ao mesmo tempo, fazer o seu melhor em proteger ou regenerar a natureza.
O nosso modelo econômico não é perfeito e provavelmente nunca será. No entanto, a nossa melhor oportunidade de chegar a um modelo econômico mais sustentável é de replicar a Natureza. A natureza inventou um modelo tão perfeito que não existe desperdício, usa apenas o que existe localmente e toda gente tem trabalho!”
Esse olhar para a natureza em busca de soluções para os desafios do planeta é algo que diferencia muitas das empresas que estamos analisando. Sua organização já faz algo nesse sentido?
João Guilherme Brotto
Cofundador A Economia B
Se você tem interesse em tornar sua marca uma apoiadora desse estudo inédito que vai conectar o Sul e o Norte Global por meio de histórias de impacto no setor de alimentos e bebidas, me escreve (joao@aeconomiab.com).
Você sabia que…
… a prática de divulgar a pegada de carbono de cada produto na própria embalagem se chama rotulagem climática (ou rotulagem de carbono)?
Ou seja, é quando através do rótulo é possível saber a quantidade total de gases de efeito estufa que a produção daquele produto emite (direta ou indiretamente) em todo o seu ciclo de vida – desde a extração da matéria-prima até o descarte final.
Nesta reportagem, explicamos melhor esse conceito e revelamos a importância do cálculo da pegada de carbono na jornada em busca de operações carbono neutro. Vale a leitura.
Pensamentos que iluminam e ecoam
“As empresas de alimentos precisam tomar uma atitude. Elas precisam mudar e se reinventar para atuar de maneira menos prejudicial ao planeta. Para as marcas que estão nascendo agora, não tem como não se preocupar e já se posicionar de forma sustentável e responsável”
Giovanna Meneghel, CEO e cofundadora da Nude.
→ No fim desta semana vamos entrevistar Mariana Malufe Spignardi, diretora de sustentabilidade da Nude. Tem algo que você gostaria de perguntar? Escreve pra gente: natasha@aeconomiab.com
Farol Recomenda
[Reportagem] Olympic surfing controversy: Environmental concerns on island of Teahupo’o
Os Jogos Olímpicos de Paris 2024 ficaram pra trás (#saudade), mas os debates sobre essas terem ou não sido as Olimpíadas mais sustentáveis da história estão longe de terminar…
O canal Al Jazeera produziu uma reportagem em Teahupo’o, no Tahiti, onde aconteceu a competição de surfe. De longe, a gente só vê a beleza do cenário. Ao assistir à matéria, fica sabendo, por exemplo, que a construção da torre de julgamento no meio do mar danificou o recife de corais – e pode ter prejudicado a formação de ondas também.
Vale assistir e refletir antes de engolir qualquer afirmação verde. A reportagem está em inglês, mas dá para acionar as legendas automáticas em português.
Você acabou de ler um trecho da edição #22 da Farol, a newsletter d’A Economia B. Leia ela na íntegra (e assine gratuitamente) aqui.
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