Iniciativas na Dinamarca e em Portugal mostram que sistemas de reuso funcionam na prática – e podem inspirar outras cidades ao redor do mundo
Estima-se que a vida útil de um copo descartável de café seja de aproximadamente 15 minutos. E por mais que depois desse tempo ele vá parar em um lixo, seu destino nem sempre é a reciclagem. Aliás, pelo contrário. Apesar de não existirem dados oficiais precisos, sabe-se que o fim mais comum desse tipo de resíduo é a incineração, um processo que libera gases de efeito estufa que contribuem para o agravamento da crise climática.
Mas em Aarhus, na Dinamarca, essa lógica está sendo virada de cabeça para baixo.
Em 2023, a prefeitura e a TOMRA – empresa norueguesa especializada em soluções de logística reversa e reutilização de resíduos – iniciaram a implementação da REUSABLE, considerada a primeira plataforma urbana para reutilização de embalagens de bebidas para viagem do mundo.
Só no ano passado, mais de 735 mil copos reutilizáveis foram devolvidos em máquinas de depósito espalhadas pela cidade – cada um sendo usado em média 44 vezes antes de ser descartado.
O resultado? Uma economia de 14 toneladas de plástico que teriam sido incineradas.
Diferentemente de outros países europeus que concentram a devolução de embalagens em supermercados, Aarhus instalou suas máquinas nas ruas e aliou a tecnologia à mudança de comportamento – cafés locais deixaram de oferecer copos descartáveis e grandes eventos, como o festival Aarhus Uke, ajudaram a consolidar o hábito entre a população. Segundo a prefeitura, o festival evitou o descarte de aproximadamente 95 mil copos plásticos em apenas dez dias ao aderir ao programa.
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Desafios e caminhos para o futuro
A criação do sistema exigiu mais do que tecnologia: foi necessário garantir a adesão dos estabelecimentos, mudar o comportamento dos consumidores e superar a resistência inicial.
No começo, apenas 25% dos copos eram devolvidos, e os idealizadores do projeto chegaram a duvidar de sua viabilidade. O ponto de virada veio com o esforço coordenado entre setor público, empresas e eventos locais, que expuseram mais pessoas ao novo modelo e estimularam o hábito da devolução. Hoje, a taxa de retorno dos copos reutilizáveis em Aarhus é de 88% – resultado que demonstra a eficácia da combinação entre infraestrutura e mudança cultural.
A experiência mostra que, para além da infraestrutura, é preciso construir uma nova cultura de consumo. Especialistas apontam que políticas públicas, incentivos financeiros e proibições claras ao uso de descartáveis são essenciais para escalar esses sistemas. Com metas ambiciosas e cooperação entre governos, empresas e cidadãos, iniciativas como a de Aarhus têm o potencial de transformar radicalmente a forma como as cidades lidam com o plástico descartável.
Lisboa segue o exemplo – e vai além
No fim de junho, Lisboa entrou para o grupo de cidades europeias que estão apostando em sistemas de reuso para combater o lixo descartável.
A iniciativa, chamada “Lisboa a Reutilizar”, é fruto de uma parceria entre a prefeitura da cidade, a TOMRA e a AHRESP (Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal). O objetivo inicial é reduzir a quantidade de copos plásticos descartados nas áreas de entretenimento da capital portuguesa, onde se estima o uso de até 25 mil copos por noite.
As primeiras máquinas começaram a operar em quiosques de duas praças da cidade, e até outubro, pelo menos 17 pontos de coleta serão implantados. O sistema funciona de forma simples: o consumidor recebe a bebida em um copo reutilizável e paga €0,60 de depósito – valor totalmente reembolsado no retorno, sem necessidade de cadastro, bastando aproximar o cartão ou celular.
A estrutura é viabilizada pela TOMRA, que cuida de toda a logística – recolhimento, lavagem, rastreamento e redistribuição dos copos –, e a expectativa é que a padronização do “copo de Lisboa” para bares, cafés e casas noturnas da região central facilite a adesão e operação.
Com isso, Lisboa se torna a primeira capital europeia a implementar um sistema de copos reutilizáveis, seguindo os passos bem-sucedidos de Aarhus e estabelecendo um novo padrão para metrópoles europeias.
Além de reduzir o lixo nas ruas, iniciativas como as de Aarhus e Lisboa ajudam a trazer a sustentabilidade para o cotidiano. Ao envolver consumidores, comércios e governos em soluções concretas, elas transformam conceitos como economia circular, emissões e reuso em experiências acessíveis e palpáveis, e é nesse encontro entre prática e consciência que novas soluções ganham força para se espalhar.
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