ESG

85% das alegações ambientais no Brasil são greenwashing

85% das alegações ambientais no Brasil são greenwashing, alerta relatório

Análise de mais de 3 mil alegações ambientais denuncia o uso sistemático de termos vagos, falta de comprovação e selos falsos, e confirma que o greenwashing ainda predomina no país

O Brasil está falando mais de sustentabilidade, mas ainda praticando pouco. Um novo estudo revela que o aumento de discursos ambientais não veio acompanhado de mais responsabilidade ou transparência. Pelo contrário: o greenwashing segue como regra, não exceção.

Realizado pela Market Analysis Brasil com apoio do Instituto Akatu, o relatório “Greenwashing no Brasil 2024” analisou mais de 2 mil produtos e identificou 3.045 alegações ambientais. O problema é que 85% dessas alegações são superficiais, falsas ou enganosas – em 2014, o índice era de 83%.

Promessas verdes sem lastro

A média de alegações ambientais por produto saltou de 1,3 para 2,1 em dez anos, um aumento de 60%. Mas quantidade não significa qualidade. Menos de 15% das alegações têm algum respaldo em certificações reconhecidas no Brasil, o restante consiste em autodeclarações soltas como “eco-friendly”, “sustentável” ou “amigo do meio ambiente”, sem qualquer verificação independente.

Greenwashing no Brasil – Número de produtos e apelos ambientais identificados

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Os 7 pecados do greenwashing – e os maiores “pecadores”

Para identificar essas falhas, o estudo classifica sete tipos de estratégias enganosas, chamados de “pecados do greenwashing”. São elas:

  • Incerteza: uso de termos vagos como “sustentável”, “eco-friendly” ou “amigo do meio ambiente”, sem explicações ou evidências claras;
  • Falta de prova: alegações que não apresentam nenhuma comprovação verificável, como certificações, dados ou canais de contato confiáveis;
  • Irrelevância: destaque para atributos que são exigências legais, como “livre de CFC” (substância proibida há décadas);
  • Custo ambiental camuflado: omissão de impactos significativos na cadeia de produção enquanto se exalta uma vantagem pontual, como embalagem reciclável;
  • Culto a falsos rótulos: uso de selos inventados ou gráficos que imitam certificações oficiais, mas não têm validade;
  • Mentira: uso de selos reais sem estar devidamente registrado ou alegações comprovadamente falsas;
  • Menos pior: tentativa de parecer sustentável apenas por ser “menos nocivo” que outros, ainda que o impacto ambiental permaneça alto.

Segundo o relatório, o pecado mais comum é a incerteza, presente em 57% dos casos. Na sequência, aparecem a falta de prova (17%) e a irrelevância (16%). A variedade dessas práticas indica que muitas marcas buscam parecer sustentáveis sem assumir compromissos reais com a transparência.

O setor de produtos de limpeza é o campeão do greenwashing. Neste segmento, 96% das alegações analisadas são enganosas. Cosméticos, casa e construção, e eletroeletrônicos também aparecem com altos índices.

Greenwashing no Brasil – Percentual de apelos cometendo algum pecado do Greenwashing

Mais interesse, menos confiança

Do lado do consumidor, o engajamento com a sustentabilidade cresceu. Em 2023, 32% afirmaram recompensar marcas sustentáveis, contra 22% em 2010. O boicote também aumentou: de 10% para 22% no mesmo período. Apesar disso, a confiança de que o consumo pode mudar o mercado caiu de 85% em 2019 para 77% em 2023.

Essa ambiguidade reflete um fenômeno que já discutimos aqui: o greenhushing. Diante do risco de críticas, empresas preferem silenciar boas práticas a correr o risco de serem cobradas por inconsistências. Mas o silêncio também cobra seu preço: perde-se a oportunidade de conexão genuína com o consumidor e de liderança em um tema estratégico.

Leia também: Como fugir do greenwashing sem cair no greenhushing

O que as marcas podem (e devem) fazer

Os 7 pecados do greenwashing – e os maiores “pecadores”

A pesquisa mostra que o consumidor está mais vigilante e menos tolerante ao greenwashing – e que a era do marketing ambiental vazio está com os dias contados.

Para não perder mercado e reputação, empresas precisam de um novo compromisso com a comunicação: falar menos em intenções e mais em evidências.

O relatório mostra que é hora de dar um passo além da embalagem verde e mergulhar na substância das promessas. Sustentabilidade sem comprovação é risco. Mas comprovação sem comunicação também é. Encontrar esse equilíbrio entre discurso e prática é o grande desafio – e também a melhor oportunidade – das marcas nesta década.

O relatório completo está disponível para leitura gratuita aqui. Vale conferir os detalhes por setor e refletir sobre o que sua organização está fazendo para não cair nas armadilhas do greenwashing e comunicar com responsabilidade.

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Guia antigreenwashing para empresas


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