ESG

A ética, a circularidade e os saberes ancestrais como ferramentas para construir o futuro

A ética, a circularidade e os saberes ancestrais como ferramentas para construir o futuro – Humanidades Sustentáveis
Foto: Tom Schiebel/A Economia B

Especialistas e empreendedores debatem como unir impacto socioambiental, ética e viabilidade econômica, e compartilham histórias que provam que esse equilíbrio já é possível

E se o desenvolvimento sustentável fosse, antes de tudo, uma questão humana? 

Essa provocação guiou o IV Humanidades Sustentáveis, evento realizado em Curitiba nos dias 21 e 22 de maio. Promovido pela PUCPR, com organização da Escola de Educação e Humanidades e apoio de outras áreas da universidade, o evento reuniu empreendedores, especialistas e organizações sociais para mostrar que a resposta já existe – e está em curso.

O tema central foi o empreendedorismo sustentável, abordado em mesas de debate, oficinas, exposições e rodas de conversa que trouxeram à tona práticas regenerativas, a valorização da agricultura familiar e a necessidade de rever padrões de consumo e produção.

Acompanhamos dois painéis que mostraram como essa transformação já está acontecendo.

O poder transformador do empreendedorismo social

Humanidades Sustentáveis
Foto: Tom Schiebel/A Economia B

Durante a primeira mesa, os convidados e a mediadora, a professora Doutora Mari Regina Anastacio, discutiram os desafios e as oportunidades de aliar impacto socioambiental positivo à viabilidade econômica.

James Marins, presidente do Instituto Legado de Empreendedorismo Social e autor do livro A Era do Impacto, abriu a conversa refletindo sobre o conceito de empreendedorismo sustentável. 

“Há 12 anos, eu nunca tinha ouvido falar em empreendedorismo social. Para mim, empreender era apenas uma forma de ganhar dinheiro, sem considerar a ética do negócio”, contou. Ao perceber o quanto essa mentalidade era danosa ao planeta, James decidiu agir.

A partir dessa inquietação, ele fundou o Instituto Legado, que hoje forma e apoia empreendedores de impacto. “Ao contrário do empresário que está focado apenas no lucro financeiro, o empreendedor social sabe para onde o mundo deve ir”, destacou.

Badu Design e EVA: soluções que surgiram “dentro de casa”

Entre os empreendedores impactados pelo Instituto Legado está Ariane Santos, fundadora e CEO da Badu Design

Especialista em economia circular, Ariane começou sua empresa dentro do seu próprio quarto. Com peças feitas a partir de resíduos têxteis, a Badu Design atingiu reconhecimento internacional. 

Além de aplicar a circularidade em sua produção, a empresa investe na capacitação e contratação de mulheres em situação de vulnerabilidade, gerando impacto social direto. 

Uma das iniciativas da Badu que mais chamaram a atenção foi a criação de uma coleção de acessórios feitos inteiramente a partir de cintos de segurança descartados.
Uma das iniciativas da Badu que mais chamaram a atenção foi a criação de uma coleção de acessórios feitos inteiramente a partir de cintos de segurança descartados. Foto: Instagram Badu Design

Assim como Ariane, Lorenzo Mesadri também começou seu negócio em casa e foi aluno dos cursos do Instituto Legado. Hoje, ele está à frente da EVA Agricultura Urbana, uma startup que transforma terrenos ociosos em hortas automatizadas, conectando tecnologia, agroecologia e impacto social.

EVA Agricultura Urbana – Foto-Foto- Valquir Aureliano:SECOM
Foto: Valquir Aureliano/SECOM

Os sistemas da EVA controlam irrigação, iluminação e nutrientes com precisão, permitindo o uso eficiente da água e a produção de alimentos livres de agrotóxicos. 

A EVA promove a reconexão com os ciclos naturais, incentiva hábitos saudáveis e fortalece o senso de pertencimento. As hortas são implantadas em escolas, empresas e centros comunitários, com participação ativa da comunidade local na montagem, manutenção e colheita.

Em 2020, por exemplo, a startup apoiou o Sr. Amaral, de 84 anos, na transformação de um terreno baldio no bairro São João, na capital paranaense, em uma horta produtiva e diversificada, com alimentos orgânicos e criação de galinhas. O excedente da produção passou a ser doado para vizinhos da região. A EVA ampliou o espaço, ofereceu suporte técnico e auxiliou no controle de pragas e doenças com práticas agroecológicas. Hoje, o Sr. Amaral é o responsável por toda a produção local. 

Leia também: Empreendedorismo social no Brasil e no mundo

Como o design regenerativo pode ajudar a restaurar ecossistemas e comunidades

A segunda mesa propôs uma virada de chave: em vez de apenas reduzir danos, como regenerar o que já foi degradado?

A ética, a circularidade e os saberes ancestrais como ferramentas para construir o futuro – Humanidades Sustentáveis
Foto: Tom Schiebel/A Economia B

Também mediada pela professora Mari Regina Anastacio, a conversa teve como tema o design regenerativo. O conceito parte da ideia de que não basta minimizar impactos ambientais, é preciso restaurar ecossistemas, revitalizar comunidades e reconstruir as conexões entre seres humanos e natureza.

A designer e ativista socioambiental Bernadete Brandão e os empreendedores Marcelo Castilho (CollabSoul) e Flávia Feliz (We.Flow) debateram como integrar princípios regenerativos ao design de produtos, serviços e modelos de negócio.

A conversa proporcionou reflexões sobre cocriação com comunidades, escuta ativa e o reconhecimento de que tudo está interligado. “Sem falar na importância de nos responsabilizarmos por nossos atos”, salientou Bernadete.

Flávia destacou especialmente a importância dos saberes ancestrais e dos povos originários, ressaltando que essas comunidades têm muito a ensinar sobre como nos reconectamos com a natureza e sobre outras formas de viver em equilíbrio com o planeta. “Precisamos incluir essas vozes nos processos de transformação ecológica e social, valorizando formas de conhecimento historicamente marginalizadas”, enfatizou.

Marcelo lembrou que o design é valioso por “visualizar algo como um todo e, a partir disso, buscar a realização”. Para ele, o ecossistema funciona como um convite ao pensar, e falar em regeneração é a possibilidade de conceber algo novo, inovador e transformador.

Leia também: O design como agente de mudança positiva

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