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Um chamado da Amazônia, “centro do mundo”, para um empreendedor e contador de histórias

Um chamado da Amazônia para um empreendedor e contador de histórias – TerraLingua_Iawa©lorenakuruaya.
Imagem: TerraLingua_Iawa©lorenakuruaya.

A história de um empreendedor, contador de histórias e criativo português que vive em uma comunidade remanescente de quilombo no Pará, onde criou um negócio de impacto para impulsionar produtores locais e contar histórias da Amazônia para o mundo

Em Banzeiro òkòtó: uma viagem à Amazônia centro do mundo (Companhia das Letras), a jornalista Eliane Brum fala sobre a ideia de ressignificar o que se entende por centro do mundo. Já faz alguns anos que ela mora em Altamira (PA) porque, como conta no livro…

“Altamira, o Xingu e a Amazônia me deram a compreensão de que não há casa para mim quando o planeta inteiro se retorce, partes dele em agonia. Nunca mais me senti em casa em lugar algum.”

Durante o Web Summit 2023, em Lisboa, quando vi que um português iria apresentar sua startup baseada no Pará durante uma sessão de pitches, fiquei curioso para entender melhor do que se tratava e, na hora, lembrei do Banzeiro e do centro do mundo.

Nos dois minutos em que esteve no palco, Miguel Pinheiro apresentou a Green-C, powerhouse criativa/boutique online baseada em uma comunidade remanescente de quilombo nas margens do Rio Tocantins, no Pará. Em poucas palavras, a Green-C existe para fomentar a bioeconomia na Amazônia.

Convidei Miguel para uma entrevista em que não falamos muito sobre negócios, mas bastante sobre a Amazônia, a bioeconomia, o Brasil que não fala português e a sua inusitada jornada de vida. O vídeo está logo abaixo.

Miguel Pereira e Green-C - Web Summit 2023

Onde os caminhos do Miguel e da Amazônia se cruzaram

Miguel morou em diversos países e trabalhou em múltiplos projetos nas indústrias do cinema, sustentabilidade, beleza e publicidade. Em sua jornada profissional, desenvolveu trabalhos autorais de não-ficção sobre biodiversidade, meio ambiente, populações tradicionais e singularidade cultural que tiveram repercussão em veículos como BBC, Al Jazeera, Rotary, Channel 4, O Globo, HBO e FOX. 

Há uma década, escolheu o Brasil como casa. Após morar no Rio de Janeiro por oito anos e ter ido várias vezes à Amazônia, foi cativado pelo que chama de “encantos e surpresas” do mar verde – termo que, aliás, inspirou o nome de sua startup (a Green-C).

“Para muitos, a Amazônia é um lugar de carência, conflitos e tragédias. Eu sempre olhei uma Amazônia de encantos e surpresas”, conta.

Em 2021, Miguel decidiu se mudar para Altamira (PA).

“Chegou uma altura em que o Rio de Janeiro era apenas onde eu dormia. Eu só pensava, sonhava e trabalhava com a Amazônia. Aí fiz uma mudança radical, pois havia morado em metrópoles como Londres, Paris, Atenas, Porto e Barcelona. Pela primeira vez, passei a chamar de lar uma cidade pequena. Foi uma das mudanças mais radicais da minha vida, mas logo entendi que na verdade eu tinha me mudado para uma cidade muitíssimo maior, pois é um território que se estende por muitos quilômetros e que promove um encontro de culturas, mistério e beleza, e que não se define por uma cidade. Isso me encantou”, disse. 

Leia também: Bioeconomia e o futuro da Amazônia – como negócios sustentáveis podem ajudar a salvar a floresta

Miguel Pereira - Green-C

E se você fosse o último falante de sua língua nativa?

Além de ser um empreendedor de impacto e trabalhar com comunidades rurais e marcas locais para promover a bioeconomia na Amazônia, Miguel tem uma carreira como ator e diretor de cinema e TV. Na entrevista que você vai ver a seguir, ele fala, por exemplo, sobre The Last Kuruaya, um documentário sobre Odete Kuruaya, última falante do idioma Kuruaya. A brevidade do filme contrasta com a força da história que conta.

Ele também revela o que o motivou a se mudar para a Amazônia, explica o seu trabalho na Green-C – que envolve fortalecer cadeias de produção e buscar fundos para empoderar comunidades – e, por fim, comenta as perspectivas para a bioeconomia.

“É superimportante plantar árvores, mas a gente descobriu que o mais importante é fazer com que as pessoas de certos territórios possam tomar o poder para mudar seu próprio território”, lembra.

Como diz Eliane Brum em Banzeiro òkòtó, “o futuro não está no Velho Mundo, na Europa, nem nos EUA, essa superpotência em queda, tampouco na China, a superpotência em ascensão. Mas no sempre novo velho mundo das comunidades originárias que resistiram a todos os dominadores por séculos e se compreendem e vivem como parte orgânica da Terra”. 

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João Guilherme Brotto

Jornalista e co-fundador de A Economia B. MBA em Desenvolvimento Sustentável e Economia Circular e Multiplicador B do Sistema B Brasil. Baseado na Espanha, está sempre viajando pela Europa para cobrir eventos e investigar tendências de sustentabilidade, regeneração e ESG.

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