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Parneet Pal: “nossa saúde e a saúde do planeta dependem de nos lembrarmos de onde viemos”

Parneet Pal: As mitocôndrias e a relação entre a nossa saúde e a do planeta

Médica canadense que trabalha na interseção de negócios e medicina de estilo de vida fala sobre a relação entre a saúde mitocondrial e a saúde do planeta

Em algum momento você já sentiu cansaço, desânimo, preocupação exacerbada com o meio ambiente e com o futuro do planeta? 

Esses sentimentos são comuns atualmente, até porque não é difícil perder o sono – e sentir raiva durante o dia – vivendo em um contexto de policrise, como nomeou o Fórum Econômico mundial no relatório The Global Risks Report 2023.

Na visão de Parneet Pal, porém, existe um caminho para lidar com tudo isso e resolver não apenas as questões individuais, mas também as que prejudicam a saúde do planeta. Ele passa pelas organelas celulares conhecidas como mitocôndrias. 

“Considere as mitocôndrias como o centro de toda a vida. As mitocôndrias são as partes presentes em todas as células de plantas, animais e humanos que regulam a maioria das reações químicas sustentadoras da vida: a decomposição de alimentos para gerar energia, a produção de hormônios, a regeneração e a expressão genética. Elas são as mentes por trás do equilíbrio entre crescimento e reparo no nosso corpo, garantindo que cada órgão funcione da melhor forma. Nossas células só conseguem sobreviver dentro de uma faixa muito estreita de pH e temperatura – a zona segura de operação – e as mitocôndrias se encarregam de garantir que isso aconteça”, explica Parneet.

Parneet Pal é médica formada em Harvard e Columbia e trabalha na interseção de negócios, medicina de estilo de vida e mudança comportamental. Durante a Next Conference, ela explicou como a saúde mitocondrial e a saúde do planeta se conectam… 

→ É possível assistir à palestra de Parneet na Next no YouTube (em inglês).

A canção da mitocôndria

Parneet iniciou sua apresentação fazendo uma viagem pela história evolutiva da Terra, destacando especialmente a formação das mitocôndrias, há 1,5 bilhão de anos – uma história de simbiose entre arqueias e bactérias que impulsionou a vida complexa. “Gosto de pensar nessa como uma das histórias de amor mais bonitas e duradouras”, disse a médica que se apresenta como alguém que traduz a ciência complexa em insights facilmente compreensíveis e aplicáveis para mudanças de comportamento.

Segundo ela, todos os dias, 14 quatrilhões de mitocôndrias alimentam mais de 30 trilhões de células no corpo humano. “Elas alimentam o milagre de sua experiência de vida cotidiana, desde desfrutar de uma bela refeição até abraçar seus entes queridos, até salvar o dia no escritório com uma ideia brilhante”, indica.

Além disso, ela conta que cada célula muscular do coração tem 5 mil mitocôndrias, o que permite que ele bata 100 mil vezes todos os dias e bombeie 5,6 litros de sangue três vezes por minuto, percorrendo uma distância de 19 mil quilômetros diariamente.

Ou seja, de fato, as mitocôndrias exercem um papel fundamental no corpo humano. Porém, a especialista destaca que apesar de sermos donos do que ela descreve como uma beleza sublime, nos encontramos em uma situação peculiar na vida e nos negócios.

“Mudanças climáticas, aquecimento global, acidificação dos oceanos, desmatamento, injustiça social… nossa casa planetária está claramente em chamas, e nós também estamos. E essa crise interna de energia pessoal não é apenas metafórica, é biologicamente literal, e é resultado da quebra do metabolismo em nossas mitocôndrias”, explica.

O ponto de encontro entre a saúde mitocondrial e a saúde do planeta

O ponto de encontro entre a saúde mitocondrial e a saúde do planeta

Parneet ressalta que a falha no metabolismo mitocondrial leva à inflamação celular, contribuindo para doenças crônicas – como câncer, diabetes, obesidade, doenças autoimunes, Alzheimer, Parkinson e transtornos de saúde mental como depressão e ansiedade.

Além disso, a inflamação influencia até mesmo decisões cotidianas. Afinal, biologicamente, a inflamação é percebida pelo corpo como uma ameaça à sua sobrevivência, portanto, o processo inflamatório nos torna mais impulsivos e incapazes de pensar no longo prazo. 

Nesse estado, alerta Parneet, a confiança e a empatia pelos que nos rodeiam desmoronam, e não temos acesso às nossas melhores ideias, o que acaba levando a problemas como consumismo desenfreado, desejo de crescimento irrestrito a qualquer custo, perda de confiança mútua – nos outros, no estado e nas instituições –, vícios de todos os tipos e injustiça social. 

Na avaliação da especialista, isso ocorre porque esquecemos de abordar uma das principais causas, que é biológica.

O caminho para melhorar a saúde do planeta e a nossa

Por mais preocupante que o cenário possa parecer, Parneet destaca que quando se trata da saúde mitocondrial, há notícias boas e outras melhores ainda.

“A boa notícia é que temos a ciência, sabemos o que funciona. E a notícia ainda melhor é que quando realmente começamos a fazer mudanças em nosso estilo de vida para abordar nossa saúde mitocondrial, os dados mostram que podemos prevenir de 80 a 90% de todas essas doenças horríveis.”

Entre as mudanças simples que é possível fazer para alterar essa trajetória, estão:

1) Consumir mais alimentos integrais e à base de plantas

“Quanto mais biodiversidade houver no solo, mais diversificado será o alimento em nosso prato, mais biodiverso nosso microbioma se torna, e melhor será nossa saúde. Podemos ver claramente, então, que prejudicar a Terra é literalmente prejudicar a si mesmo”, pontua Parneet.

2) Alinhar as rotinas diárias aos ritmos circadianos biológicos

“As mitocôndrias não funcionam isoladamente. Elas acompanham o movimento do sol no céu. (…) Então, para resumir tudo isso, a saúde mitocondrial é verdadeiramente uma fração da saúde planetária. E quando começamos a cuidar de nossos estilos de vida e prestamos atenção à nossa saúde mitocondrial, podemos começar a ter mais foco, mais criatividade e tomar decisões mais sábias para nós mesmos, nossos negócios e nosso planeta”, analisa.

Olhar para o passado para construir o futuro

Parneet fechou sua apresentação relembrando a visão de Buckminster Fuller de construir um mundo que funcione para 100% da humanidade no menor tempo possível, que ela tinha destacado nos minutos iniciais. A partir dessa reflexão, ela disse: 

“A maior riqueza da vida neste planeta é um sistema metabólico e regenerativo operante para a frente. E a natureza está constantemente avançando para a próxima melhor iteração desse sistema, dessa vida, mais beleza, mais complexidade, mais diversidade. Como fazemos parte da natureza, à medida que avançamos para este próximo capítulo de nossa humanidade, nossa saúde e a do planeta dependem de nos lembrarmos de onde viemos.

É hora de lembrar da união catalítica transformadora de vida que aconteceu há 1,5 bilhão de anos entre arqueia e bactéria, e ouvir a canção das nossas mitocôndrias, chamando-nos para nos apaixonarmos novamente por nossa biologia, para tornar este próximo capítulo da humanidade a história de amor mais bela, para mais uma vez nos tornarmos a vida que cria condições propícias a toda a vida”, conclui.

Entrevista exclusiva

Next Conference – Parneet PalDurante a Next Conference, João Guilherme Brotto, jornalista e cofundador de A Economia B, entrevistou Parneet Pal.

Ela falou sobre como as mudanças do clima podem afetar a saúde mental e até mesmo a capacidade de tomar decisões, e destacou a importância da raiva para promovermos as mudanças que vão nos levar para um futuro mais justo, equitativo e regenerativo. Leia a entrevista.

 


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