De embalagens retornáveis à reciclagem de painéis solares, conheça sete soluções que estão impulsionando uma nova lógica de produção baseada na circularidade
Embora os debates sobre economia circular tenham triplicado nos últimos cinco anos, o índice de circularidade global caiu de 9,1% em 2018 para apenas 7,2% em 2023. Além disso, segundo o Circularity Gap Report 2024, nos últimos seis anos, a população mundial consumiu mais de 500 bilhões de toneladas de materiais – volume quase equivalente ao consumo de todo o século XX.
Mas, de acordo com o estudo realizado pela Deloitte e pela Circle Economy Consulting, a economia circular tem potencial para reduzir as emissões globais em até 40%, gerar quase dois milhões de empregos e movimentar entre US$ 2 e 3 trilhões nos próximos anos.
Ou seja, além de essencial para o futuro do planeta, a circularidade também representa uma oportunidade econômica concreta.
Diversas empresas ao redor do mundo já entenderam esse potencial e vêm incorporando práticas circulares em seus modelos de negócio. Durante o ChangeNOW 2025, conhecemos algumas dessas iniciativas. A seguir, apresentamos sete soluções que mostram como a economia circular pode gerar valor ambiental, social e econômico – ao mesmo tempo em que impulsiona a inovação e a competitividade.
Keep-it Technologies
Prazos de validade estáticos muitas vezes levam ao descarte de alimentos que ainda estão bons para consumo, o que gera não apenas desperdício, mas também aumento das emissões de carbono.
A startup norueguesa Keep-it Technologies desenvolveu um indicador dinâmico de validade, baseado em uma tinta inteligente que desaparece com o tempo. O sistema revela o prazo real de consumo dos alimentos, de acordo com a exposição à temperatura ao longo da cadeia logística. Isso ajuda a evitar desperdícios e reduzir emissões, e ainda permite que varejistas e consumidores tomem decisões mais informadas. Além disso, a solução oferece controle da cadeia de refrigeração, promovendo mais eficiência e segurança alimentar.
Segundo a empresa, a rede de supermercados da Noruega Rema 1000 reportou que cada euro gasto na rotulagem Keep-it para salmão evita 0,1 kg de desperdício de alimentos e uma economia de €2,05.
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Heliosand
A startup francesa Heliosand criou uma tecnologia capaz de transformar resíduos perigosos em materiais de construção estáveis e seguros, que não liberam substâncias tóxicas nem causam impactos ambientais negativos – e tudo isso sem o uso de combustíveis fósseis.
A Heliosand utiliza lentes solares, que funcionam como lupas gigantes, para concentrar a luz do sol e gerar calor extremo – aproveitando até 80% da energia solar captada, sem perdas no processo.
Com temperaturas que chegam a 4.000 °C, a solução oferece uma alternativa limpa e eficiente para substituir processos industriais poluentes e dar nova vida a resíduos antes considerados impossíveis de reciclar.
KUORI
A KUORI é uma startup suíça que está comprometida com a transição para uma economia pós-petróleo. Para isso, desenvolve e fornece materiais elásticos biodegradáveis, recicláveis e derivados de subprodutos alimentares, como caroços de oliva e cascas de nozes.
Esses materiais ajudam a reduzir a poluição por microplásticos e podem ser derretidos e remodelados ao fim de sua vida útil, contribuindo para uma fabricação mais circular e sustentável.
Mycocycle
A Mycocycle utiliza fungos para transformar resíduos industriais – como gesso, borracha e carpetes – em novas matérias-primas ecológicas, com baixo carbono incorporado. A tecnologia melhora as funções naturais dos fungos, que atuam como recicladores da natureza, para regenerar materiais e neutralizar substâncias tóxicas.
Feitos a partir de micélio (a estrutura subterrânea dos cogumelos), os produtos da Mycocycle podem substituir plásticos e matérias-primas virgens na construção civil, contribuindo para a transição para um modelo de produção mais circular e menos dependente de petroquímicos.
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RePack
A RePack surgiu como resposta à explosão do comércio eletrônico e ao desperdício gerado por embalagens descartáveis. Inspirada no sistema de retorno de garrafas da Finlândia, a empresa criou um modelo circular de embalagens reutilizáveis para entregas, permitindo que pacotes sejam devolvidos e reutilizados várias vezes – de forma prática, eficiente e ambientalmente responsável.
Com soluções customizadas para marcas, varejistas e empresas de logística, a RePack vende sistemas completos de reutilização. O objetivo é eliminar o lixo gerado por embalagens de uso único e tornar o processo de envio mais sustentável.
A empresa, que nasceu do aprendizado com falhas e do engajamento direto com usuários que demonstraram forte apoio à ideia, oferece uma alternativa concreta para reduzir a pegada ambiental das entregas e criar um novo padrão para a logística circular no e-commerce.
SunR
Com o avanço da energia solar, o mundo começa a enfrentar um novo desafio: o que fazer com os painéis que chegam ao fim da vida útil?
A startup brasileira SunR desenvolveu uma tecnologia para reciclá-los diretamente nas usinas. Em parceria com diferentes atores do setor, a empresa busca reduzir resíduos e emissões. Componentes como o vidro estão sendo testados em outras indústrias, o que amplia o reaproveitamento e ajuda a fechar o ciclo da energia solar.
A solução evita o descarte incorreto dos painéis e promove uma transição mais circular em um setor estratégico para a transição energética.
Global Kepri Indonesia
A Global Kepri Indonesia converte resíduos de cascas de coco em biomassa de alta qualidade, capaz de substituir o carvão e os pellets de madeira – pequenos cilindros compactados usados como combustível em sistemas de aquecimento e geração de energia. Com isso, ajuda a reduzir a pressão sobre as florestas e combate o desmatamento.
Fundada em 2020, a empresa se dedica à produção e comercialização de produtos agrícolas, de plantação e de energia renovável da Indonésia para diversos países. Entre os produtos da empresa estão carvão de coco, fibra de coco, pellets de casca de coco, óleo de palma, alimentos para animais e energia elétrica renovável de baixo custo.
As soluções apresentadas no ChangeNOW 2025 mostram que a economia circular não é apenas possível – ela já está acontecendo. De startups emergentes a empresas consolidadas, o que vimos em Paris deixa claro que fechar ciclos, regenerar recursos e redesenhar cadeias produtivas pode gerar valor real para o planeta e para os negócios.
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