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O capitalismo de stakeholders e o Darwinismo empresarial

O capitalismo de stakeholders e o Darwinismo empresarial
Foto em destaque: Hans-Peter Gauster/Unsplash

Entenda o que é capitalismo de stakeholders e o contexto que está fazendo empresas repensarem a forma como fazem negócios e saiba como mapear stakeholders pode ajudar a promover a inovação

A nova dinâmica nos negócios que buscamos apresentar a cada história publicada em A Economia B tem muito a ver com menos afagos a acionistas e altos executivos e mais preocupação com as pessoas que tocam o dia a dia da organização, com fornecedores, com a comunidade e com o meio ambiente.

É nesse contexto que o capitalismo de stakeholder ganha popularidade e mostra que novos tempos exigem novas formas de fazer negócios. A constatação de que uma visão interdependente está ligada não somente a criar diferenciais competitivos, mas à própria sobrevivência de um negócio, aos poucos vai sendo  assimilada. 

capitalismo de stakeholder - livro klaus schwabO próprio Fórum Econômico Mundial tem se preocupado em levantar essa bandeira.

No início de 2021, Klaus Schwab, presidente da entidade, publicou um livro sobre o assunto.

Em Stakeholder Capitalism: A Global Economy That Works for Progress, People and Planet, Schwab reconhece que o sistema econômico está quebrado e mostra o caminho para uma economia que funcione para todas as pessoas e para o planeta.

Por trás desse movimento em que empresas buscam se adaptar para serem mais conscientes, transparentes e prontas para assumir responsabilidades coletivas, estão vários motivos (falamos sobre isso aqui), dentre os quais destacam-se o fluxo de investimentos cada vez mais direcionado ao capitalismo de stakeholder sinalizado por Schwab. Investidores estão fugindo de organizações alheias à urgência climática.

Além disso, consumidores mais exigentes – e ativistas – não deixam as organizações serem detentoras das narrativas. O poder está descentralizado.

A cena abaixo – registrada durante o desfile da Louis Vuitton na Semana da Moda de Paris de 2021 – é um exemplo disso. Ativistas do movimento Extinction Rebellion se infiltraram na passarela para criticar o consumismo – e quase passaram despercebidas.

O Darwinismo empresarial baseado no capitalismo de stakeholders

A não tão invisível mão do mercado, que tem feito o fluxo de investimentos, o olhar de consumidores e o interesse de profissionais serem direcionados para empresas éticas, que aderem a princípios ESG e que são engajadas nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, está promovendo uma espécie de evolução natural nos negócios.

Tendências atreladas a transformações comportamentais, mudanças geracionais, desigualdade social e urgência climática contribuem para que as marcas mais ousadas e cientes do zeitgeist vigente transformem-se em ativistas de causas sociais, ambientais e políticas.

A mudança é real, e o que está à frente exige novas formas de se pensar a gestão. “A nova onda de valor virá da interdependência e da consciência, com mais direção e foco. Estamos saindo da mera filantropia corporativa, das campanhas de voluntariado e de ações isoladas para o valor compartilhado. Quando entendermos que ESG e sustentabilidade podem gerar lucro, aí sim teremos empresas inovadoras”, analisa Hildengard Allgaier, consultora de sustentabilidade. 

Leia também:

A obsessão pelo lucro acima de tudo está com os dias contados?

O mapeamento de stakeholders como um ativo de inovação 

Inovação tem pouco a ver com um momento eureka e mais com processos, práticas e questionamentos feitos por e para as pessoas certas. E quando falamos em trazer sustentabilidade e impacto positivo para a inovação, um caminho é o mapeamento de stakeholders.

Hildengard Allgaier
Hildengard Allgaier

“Parece bobo, mas muitas empresas não têm política de relacionamento com a comunidade, com universidades, com governos e não têm políticas de bem-estar. A boa notícia é que a ausência traz oportunidades. Quando, enquanto empresa, estou conversando com vários públicos de interesse, com instituições que têm poder de influência e influenciam meu negócio, tenho vários tipos de oportunidade de melhorias”, aponta Hildengard.

Uma boa forma de fazer o mapeamento de stakeholders é por meio da Avaliação de Impacto B (BIA), ferramenta gratuita do Sistema B que serve como um processo de autoanálise para a organização entender onde pode melhorar nas cinco áreas que são analisadas no processo de certificação de empresas B.

O preenchimento do BIA é o primeiro passo da certificação, mas pode ser utilizado gratuitamente sem compromisso em obter o selo de empresa B.

Capitalismo de stakeholders: 15 perguntas para uma autoanálise inicial

O BIA também pode ser um ponto de partida para levar o debate para sua empresa e encontrar oportunidades de inovação na cadeia de stakeholders. Abaixo estão algumas perguntas presentes nas cinco áreas que compõem a avaliação. 

Comunidade

  1. Sua empresa possui políticas ou programas para promover a diversidade em sua cadeia de abastecimento?
  2. Que percentual das despesas da sua empresa (excetuando as despesas trabalhistas) foi gasto com fornecedores independentes locais, ou seja, próximos da sede da empresa ou de instalações relevantes?
  3. Quais medidas a sua empresa toma em relação a doações ou investimentos voltados para a comunidade?

Clientes

  1. Algum dos produtos/serviços da sua empresa aborda problemas sociais ou econômicos dos consumidores e/ou de seus beneficiários?
  2. Como poderia descrever os resultados indiretos positivos que seu produto/serviço promove para os clientes?
  3. O produto ou serviço da sua empresa beneficia a populações carentes, seja diretamente ou apoiando organizações que prestam serviços a essas populações?

Meio ambiente

  1. Os processos ou produtos/serviços da sua empresa estão estruturados para recuperar ou preservar o meio ambiente?
  2. Que porcentagem da energia utilizada pela empresa é gerada a partir de fontes renováveis?
  3. De que maneira a sua empresa monitora e administra a sua produção de resíduos?

Governança

  1. De que maneira a sua empresa integra o desempenho socioambiental na tomada de decisões?
  2. De que maneira a sua empresa apoia a gestão interna e a boa governança?
  3. Quais informações são divulgadas pela empresa de forma pública e transparente?

Trabalhadores

  1. Que porcentagem dos funcionários da empresa (considerando a equivalência a funcionários em tempo integral) recebe, no mínimo, um valor considerado como salário digno para uma pessoa?
  2. Quais oportunidades de capacitação sua empresa oferece aos trabalhadores para seu desenvolvimento profissional?
  3. Excetuando os fundadores e executivos da empresa, que porcentagem dos funcionários em tempo integral e em meio período recebeu uma bonificação monetária no último ano fiscal?

Uma organização depende de todos os stakeholders para existir 

Uma das vantagens de se ter uma visão holística sobre a empresa é que assim se cria um ambiente criativo que favorece a inovação além de suas fronteiras tradicionais. 

Esse mapeamento de públicos estratégicos é um ativo valioso. Como explica Hildengard, mapear uma empresa é mapear um sistema e os grupos de valor que atuam no sistema. “Todos os stakeholders têm, em diferentes graus, poder e influência sobre a mesma, de forma que determinam sua maneira de existir e sua viabilidade no mercado. Quando a empresa entende o poder de influência que tem nesses tópicos se torna diferente, pois entende que pode impactar em tudo”, aponta.

Um bom caso para estudar e entender como uma empresa pode atuar de fato com foco nos stakeholders é o da Patrus Transportes, cuja história contamos aqui.

Por fim, recomendamos a leitura dos artigos abaixo, que exploram a temática do capitalismo de stakeholders. 

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Foto em destaque: Hans-Peter Gauster/Unsplash

João Guilherme Brotto

Jornalista e co-fundador de A Economia B. MBA em Desenvolvimento Sustentável e Economia Circular e Multiplicador B do Sistema B Brasil. Baseado na Espanha, está sempre viajando pela Europa para cobrir eventos e investigar tendências de sustentabilidade, regeneração e ESG.

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