Começou ontem (08/06) o Fórum de Investimentos e Negócios de Impacto – Impacto Mais. O foco da conversa do painel de abertura foi a recuperação pós-Covid com inclusão, equidade e regeneração. Confira os destaques!
Sob a mediação Ricardo Sennes, economista e doutor em ciência política e comentarista de economia e política do Jornal da Cultura, quatro profissionais referências em suas áreas (e oriundas dos setores público e privado) debateram os desafios e as oportunidades do setor de impacto, sem deixar de lado as críticas aos desmontes que vêm sendo feitos pelo Governo Federal e os reflexos disso na sociedade…
Ana Toni, economista e doutora em Ciência Política e Diretora Executiva do Instituto Clima e Sociedade, destacou que a pandemia acelerou o debate sobre mudanças climáticas e desigualdade.
“Não vamos lidar com um sem lidar com outro. E, para fazer isso, temos os seguintes direcionamentos: valorizar a ciência, valorizar a cooperação e valorizar a solidariedade. Ninguém vai resolver nada sozinho. Temos que ser solidários com outros que não conhecemos, inclusive outros países e populações. Vemos no Brasil o retrocesso. Pessoas de negócios estão em dúvida. Mas é preciso resistir ao desmonte que vem ocorrendo e construir esse novo futuro que queremos e que precisamos”, resumiu.
Cida Bento, doutora em Psicologia, ativista e fundadora do Centro De Estudos Das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), lembrou que a pandemia evidenciou ainda mais o preconceito e a desigualdade, especialmente com relação às mulheres negras. Além disso, falou sobre como o desmanche de políticas de educação, saúde, trabalho e moradia tem um impacto ainda maior na população negra.
Para explicar por que as soluções de impacto precisam olhar a sociedade de forma sistêmica e não apenas a partir de ações isoladas, ela trouxe o seguinte paralelo: “As políticas de cotas nas universidades abriram portas, mas não há como apoiar a permanência de jovens negros na universidade ou na capacitação em tecnologia sem pensar que o direito à vida desse jovem é violado o tempo todo. Além disso, se nesse momento, mais do que nunca, eu tenho a juventude negra na universidade, o gestor público precisa que entender que não pode desmontar as universidades”, critica.
Do ponto de vista do terceiro setor, Ana Maria Diniz, administradora de empresas e presidente do Conselho do Instituto Península, que trabalha para melhorar a carreira docente, acredita que a pandemia trouxe uma nova consciência em que se pode enxergar sementes da visão sistêmica citada pela Cida. Isso é exemplificado, segundo Ana, pelo crescimento do debate ESG. “Veio pra ficar. Não é um modismo. As empresas que não se adequarem e não tiverem uma consciência, vão perder. Vejo com bons olhos que há uma competição saudável para engajar na temática ESG”, pontua.
O principal desafio não é o crescimento econômico, mas a inclusão
Representando a esfera pública, Patricia Ellen da Silva, Secretária de Estado de Desenvolvimento Econômico do estado de São Paulo, não acredita que o principal desafio do Brasil seja o crescimento econômico, mas a inclusão. Em sua fala, ela apresentou projetos de combate à desigualdade que coordena e destacou conquistas da educação superior ao comentar que, pela primeira vez na história, a USP tem a maioria de estudantes oriundos da rede pública. “Adoraria dizer que não precisamos de cotas, mas essa não é a realidade do Brasil, e discussões ideológicas tiram o foco”, lamenta.
Patrícia lembrou ainda que o empreendedorismo feminino cresceu 40% na pandemia. Porém, como falamos no texto Uma utopia realista alcançada através da renda básica universal, isso não se deu em razão de uma epifania coletiva que despertou a espírito empreendedor nas mulheres, mas da necessidade de sobrevivência em tempos de desemprego galopante e de ausência de políticas públicas que ajudem essas mulheres. “Sabemos que o Brasil é um dos países mais desiguais e patriarcais do mundo”, assume. O dado e a realidade motivaram a criação do Empreenda Mulher, programa que oferece cursos e acesso a crédito às empreendedoras.
A gestora falou também sobre a importância da aproximação do poder público com o setor privado. “Na pandemia, a urgência é muito grande. Vivemos uma crise sanitária, econômica e humanitária, que precisa muito do apoio do setor privado. Aprendemos a não fazer tudo sozinhos e a entender o que fazemos bem e o que não fazemos bem”, conta.
Como resultado disso, nasceu o IdeiaGov, hub de inovação aberta do Governo do Estado de São Paulo que conecta pessoas e organizações com a missão de resolver desafios públicos para gerar impacto positivo na sociedade.
“Nós mapeamos os principais desafios da gestão pública e as principais soluções. Já rodamos dois editais e atualmente temos oito soluções sendo testadas em órgãos públicos”, conta.
Ao fim do debate, quando provocada por Ricardo Sennes a falar sobre as oportunidade em economia de baixo carbono, Ana Toni reforçou que a bioeconomia é um tema para o futuro e sugeriu como referência para estudos o relatório A Onda Verde, que consolida os principais desafios que o Brasil enfrenta e faz um chamado para empreendedores, investidores, governos, consumidores, marcas e atores do ecossistema de impacto brasileiro protagonizarem uma transformação sistêmica na relação entre negócios, pessoas e meio ambiente.
O Fórum de Investimentos e Negócios de Impacto – Impacta Mais acontece entre 8 e 10 de junho de 2021 com uma série de palestras, paineis e workshops. Acompanhe a agenda oficial.
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