Histórias B

Quando um mundo novo se abre

Conheça a história por trás da plataforma A Economia B e entenda por que a marca de chocolate Tony’s Chocolonely nos influenciou a criar este projeto

Não dá para iniciar um projeto novo e não apresentar a ideia e a história por trás dele, concorda? Este, portanto, é o objetivo do meu primeiro artigo por aqui. 

A seguir, vou contar como nossa paixão pelo “mundo B” surgiu e por que decidimos levar adiante a ideia de criar um canal de conteúdo exclusivo para cobrir histórias de pessoas e empresas que estão reinventando a forma de pensar e fazer negócios.

Então, se você chegou até aqui porque conhece algum membro da nossa equipe, viu alguém compartilhando este post nas redes sociais ou simplesmente se interessa pelo assunto e nos encontrou em uma pesquisa no Google, senta que lá vem história…

Alerta de spoiler:
essa é uma história de quem está apaixonada por um novo mundo e quer fazer você se apaixonar também!

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Quem somos

Uma viagem, mil descobertas e um novo plano

Cobrir eventos é algo que faz parte da nossa rotina profissional há muito tempo. Inclusive, ir a congressos e festivais e produzir conteúdos especiais sobre eles para clientes e parceiros era um dos serviços que oferecíamos na Handmade Content, a agência de marketing de conteúdo que fundamos em 2011 e que deu vida à A Economia B. 

*Quer saber mais sobre isso? Recomendo que leia este artigo!

Neste sentido, há três anos passamos a cobrir a NEXT Conference, que é um pequeno e interessantíssimo festival de tecnologia e sociedade que acontece em Hamburgo (Alemanha), sempre em meados de setembro.

No ano passado (2019), enquanto planejávamos nossa ida para a terra em que os Beatles iniciaram oficialmente sua trajetória, vimos que o TrendWatching (uma das principais consultorias de análises de tendências do mundo) lançaria seu relatório com as previsões para 2020 poucos dias depois do fim da NEXT, mas dessa vez em Amsterdam (Holanda). E decidimos emendar uma viagem na outra!

Como se duas coberturas de eventos em menos de dez dias já não bastasse para deixar qualquer um maluco com a bagunça na rotina, João Guilherme – meu marido, sócio e jornalista com o faro para boas ideias mais apurado que eu conheço – resolveu pesquisar um pouco mais sobre o que estaria acontecendo na cidade dos canais e das bicicletas enquanto estivéssemos lá. Nessa pesquisa, ele descobriu algo que se mostrou muito interessante: um fórum anual das B Corps.

“Empresas certificadas como B Corps são líderes de um movimento global de pessoas usando negócios como forças para o bem™.”

Essa definição me convenceu de que a rotina ia mesmo precisar ficar de lado por mais um tempo. A gente não podia perder a chance de ver se isso aí era verdade mesmo. Só não imaginávamos que sairíamos de lá com um projeto novo em mente e uma nova paixão… 

Quando propósito deixa de ser buzzword e passa a impactar a sociedade de verdade

“Propósito”. 

Essa, com certeza, é uma das palavras mais utilizadas pelos profissionais do marketing corporativo atualmente. 

E não podia ser diferente. Afinal, diversos estudos vêm observando a crescente preocupação dos consumidores em comprar de e se relacionar com empresas que ofereçam mais do que simplesmente bons produtos e serviços.

Segundo um levantamento da Accenture feito em 2018, por exemplo, 64% dos consumidores globais consideram mais atrativas marcas que comunicam seu propósito ativamente. 

Além disso, 62% desejam que empresas se posicionem em relação a problemas sociais, e 52% são mais propensos a comprar de marcas que o fazem do que daquelas que simplesmente querem vender mais.

O problema, porém, é que muitas vezes propósito é apenas uma palavra bonita para incluir em ações de marketing. E os próprios consumidores já perceberam isso.

Prova disso é que 56% dos participantes do levantamento 2019 Edelman Trust Barometer disseram que têm a percepção de que muitas empresas usam questões sociais apenas no discurso de marketing para vender seus produtos.

Por concordar com essa visão, chegamos ao B Corp Summit com um pé atrás.

No entanto, demorou pouco tempo para percebermos que as empresas reunidas ali estavam genuinamente interessadas em fazer diferente e em fazer a diferença, e que propósito definitivamente não era buzzword para elas.

Tony’s Chocolonely: Chocolate com causa nobre

O que não faltaram nos dois dias de B Corp Summit foram histórias que atestam o que eu disse acima. Muitas delas, inclusive, serão contadas por aqui em breve.

Porém, para fazê-lo entender um pouco mais sobre esse universo que se abriu para nós em setembro do ano passado e que agora passa a ser parte importante das nossas vidas com o lançamento de A Economia B, escolhi compartilhar um pouco daquela que, na minha opinião, é uma das mais simbólicas: a da Tony’s Chocolonely.

A Tony’s Chocolonely é uma marca de chocolates holandesa. Porém, apesar de produzir chocolates deliciosos, o maior diferencial da marca não são seus produtos, mas sim o fato de que a empresa nasceu com um propósito muito claro (e nobre): acabar com a escravidão e com o trabalho infantil na indústria de chocolate!

Esse é um problema gravíssimo e que afeta principalmente Gana e Costa do Marfim, países africanos que respondem atualmente por mais de 60% da produção mundial de cacau. E, mais: um problema conhecido pelas grandes indústrias e de certa forma “alimentado” por elas. Afinal, em geral, plantio e colheita são realizados por pequenos produtores que são reféns dos interesses de grandes conglomerados, que os exploram para maximizar lucros.

Se você tem interesse em conhecer melhor essa história, recomendo assistir a série documental Rotten, da Netflix. Há um episódio dedicado ao assunto. 

Uma boa notícia!

No ano passado, os governos de Gana e Costa do Marfim aprovaram um acordo que fixará o preço mínimo da tonelada do cacau no mundo em US$ 2.600. Leia este artigo e saiba mais.

Aliás, não é somente na Costa do Marfim e em Gana que isso acontece.

De acordo um relatório encomendado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), entre 2017 e 2018, pelo menos oito mil crianças e adolescentes trabalhavam na cadeia produtiva do chocolate no Brasil.

Além disso, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os números de trabalho infantil aumentaram 5% entre 2000 e 2010 nas regiões produtoras de cacau no país, apesar da tendência de queda de 13,4% no uso de mão de obra de crianças e adolescentes na soma geral das atividades.

Como a Tony’s Chocolonely coloca em seu propósito em prática

Acabar com a escravidão e com o trabalho infantil na cadeia de produção do cacau é, definitivamente, um propósito e tanto, concorda? Porém, a missão não é das mais simples. Afinal, é preciso reverter um panorama estabilizado há muito tempo.

Sabendo disso, a Tony’s Chocolonely age de diversas formas para atingir esse objetivo. Estas são algumas delas:

  • Para começar, os produtores que fornecem para a Tony’s são recompensados financeiramente levando em conta não apenas o preço estipulado pelo mercado para a saca de cacau, mas também o tamanho da sua família e da sua fazenda.
    Ao valor definido com base nessa análise, soma-se ainda uma quantia extra chamada de “Tony’s Premium”. Isso porque, segundo especialistas, os salários baixos e a pobreza local são causas do uso de mão de obra infantil. Portanto, a Tony’s age para acabar com a necessidade de ter crianças trabalhando na produção de cacau e, claro, valorizar os profissionais que exercem o papel mais importante de toda a cadeia produtiva.
  • Porém, a empresa sabe que só pagar mais não basta para acabar com este ciclo de trabalho escravo que existe há tantos anos. É preciso, além disso, capacitar os produtores para que eles aprimorem seu trabalho e, consequentemente, aumentem sua produtividade. Por isso mesmo, a marca se envolve também nessa capacitação, criando programas de treinamento e desenvolvimento para os produtores e cooperativas com quem trabalham.
  • A Tony’s Chocolonely não quer simplesmente que seus chocolates sejam 100% livres de mão de obra escrava e infantil. Quer que todos os chocolates do mundo sejam produzidos de forma justa. Tony’s Open Source é a iniciativa da marca para engajar outras empresas nesta causa.
    Neste site, produtores de chocolate interessados em aderir ao movimento têm todas as informações que precisam para eliminar o trabalho escravo de suas cadeias de produção.

O vídeo abaixo, em inglês, apresenta algumas informações complementares sobre esta ação da Tony’s Chocolonely.

  • A Tony’s valoriza relações de longo prazo. Assim, assina contratos de pelo menos cinco anos com as cooperativas com as quais trabalha. Dessa forma, os produtores associados têm uma garantia de salários acima da média por bastante tempo e, consequentemente, podem tomar decisões melhores no que diz respeito à evolução do seu trabalho.
  • Além disso, a marca se preocupa em falar sobre o problema que busca resolver e conscientizar seu público sobre a existência dele.
    Para isso, por exemplo, não produz barras de chocolates divididas da maneira tradicional – ou seja, com quadrados/retângulos uniformes. A desigualdade vista no mercado é reproduzida no próprio chocolate. E basta ler a mensagem estampada na embalagem para entender o recado – que, aliás, é bem simples e direto: enquanto houver escravidão e desigualdade na indústria do cacau, as barras de chocolate da marca serão desiguais também.

Apesar de tudo isso, os executivos à frente da empresa sabem que ainda há um caminho enorme a ser percorrido até que o propósito da Tony’s Chocolonely seja 100% cumprido. Por isso mesmo, estão sempre buscando novas formas de diminuir o índice de trabalho escravo e infantil na cadeia de produção do chocolate.

Quer saber mais sobre o impacto gerado pela Tony’s Chocolonely?
Leia o case completo que fizemos sobre a empresa clicando aqui.

Uma semente tinha sido plantada

Essa história, que mostra uma empresa preocupada em resolver um problema gravíssimo e que afeta principalmente países pobres e pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza mexeu muito comigo e com o João. Depois de conhecê-la, tudo o que a gente queria era falar sobre ela para amigos, conhecidos, para o mundo! 🙂

Porém, ela foi apenas a primeira boa história que conhecemos participando do B Corp Summit. Assim que percebemos que existiam muitas outras empresas preocupadas em resolver outros problemas sociais e ambientais – além de lucrar, é claro –, o desejo de criar um espaço para falar sobre isso e incentivar e inspirar mais iniciativas como essas só foi se intensificando.

Mas talvez o empurrão final para colocarmos este projeto no papel tenha sido a palestra de Jay Coen Gilbert, fundador do B Lab, ONG responsável pela certificação das B Corps que, no Brasil, são conhecidas como empresas B.

Jay falou muito sobre a importância de reconhecermos que o sistema econômico vigente falhou e que, por isso, precisa ser repensado. 

Nas palavras dele, este sistema foi desenvolvido para produzir desigualdade social e destruição ambiental. A conta chegou e precisamos “pagá-la”.

Como?

Identificando alternativas viáveis e nos unindo para fazer uma transformação sistêmica – que, como ele mesmo assume, será extremamente difícil de promover, mas pode ser facilitada com a ajuda de pessoas, empresas e governantes engajados nas causas que realmente importam e, mais ainda, nas pessoas.

Entendendo isso e valorizando o papel da informação e do jornalismo para que essas transformações tão necessárias aconteçam, decidimos contribuir com esse movimento usando nosso amor pela nossa profissão e um dos desejos mais intrínsecos de quase todo jornalista: o de mudar o mundo!

Assim nasce A Economia B. Uma plataforma de conteúdo feita por quem ama descobrir e compartilhar histórias inspiradoras e ajudar a transformá-las em fonte de inspiração para novas (e revolucionárias) ações.

A palestra completa de Jay está disponível (em inglês) no Youtube. Clique aqui para assistir.

O que você vai ver em A Economia B

Lançamos o site em abril de 2020 com alguns conteúdos já publicados.

Caso, por exemplo, dos primeiros artigos da série sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (que, aliás, são tópicos importantes no radar das empresas B)

– Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – 10 anos para mudar o mundo
Evolução dos ODS: Erradicação da pobreza e Fome Zero e Agricultura Sustentável
Saúde e bem-estar para todos
Educação de qualidade e igualdade de gênero

Além disso, você já pode ler também:

Um pequeno guia sobre as B Corps. Inclusive, há neste guia uma entrevista que fizemos com José Eduardo Guzzardi. Ele é brasileiro e trabalha no B Lab (ONG responsável por certificar as “empresas B”) em Nova York

– Um artigo sobre como os consumidores valorizam marcas preocupadas com questões sociais

Um material especial em que falamos sobre marcas que estão dando bons exemplos em meio à crise do novo coronavírus

Daqui para frente, ao nos acompanhar, você vai:

– Conhecer muitas outras histórias de empresas que, assim como a Tony’s Chocolonely, vêm fazendo sua parte para construir um mundo melhor;
– Ler entrevistas inspiradoras;
– Saber quais são as tendências relacionadas ao universo das B Corps;
– E assim por diante.

Ou seja, este vai ser um espaço em que compartilharemos boas notícias e em que buscaremos, junto com você, promover as mudanças que queremos ver no mundo (parafraseando Ghandi). 

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No YouTube, trazemos coberturas internacionais e entrevistas exclusivas. Navegue pela biblioteca, assine o canal e ative o sininho.

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Imagem cacau: Rodrigo Flores
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Publicado por
Natasha Schiebel

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