Shirley Krenak, ativista indígena de um dos povos originários da Mata Atlântica, alerta: “Todo mundo quer falar sobre questões climáticas, projetos ambientais ligados à proteção da terra, mas ninguém quer perguntar para os povos originários o que nós estamos achando disso”.
Na semana passada, enquanto eu trabalhava na edição do vídeo que criamos a partir de encontros com a ativista indígena Shirley Djukurnã Krenak durante o B For Good Leaders Summit, em Amsterdam, a Câmara dos Deputados aprovou a Medida Provisória 1150 que, de maneira simples e direta, convida a um desastre ambiental.
Em resumo, o texto da MP (recheado de “jabutis” anteriormente retirados pelo Senado Federal) abre caminho para o desmatamento da Mata Atlântica (bioma brasileiro mais devastado) para obras de infraestrutura sem a necessidade de estudo prévio de impacto ambiental ou compensação.
Como se não bastasse esse golpe contra as pautas ambientais e dos direitos dos povos indígenas – entre eles, muitos moradores e defensores da Mata Atlântica –, o PL 490/2007 foi aprovado na Câmara nesta terça-feira (30 de maio) com 283 votos a favor e 155 contra.
Conhecido como PL do Marco Temporal, esse projeto dificulta a demarcação de terras e enfraquece uma série de direitos dos indígenas.
Leia também: Os defensores da Mata Atlântica
“Quando a gente restaura um território, a gente restaura humanidade.” E quando a gente destrói?
No dia 10 de maio, quando chegamos ao Grand Hotel Krasnapolsky para retirar nossas credenciais e participar do coquetel de abertura do B For Good Leaders Summit, fomos surpreendidos por uma voz marcante que ecoava por um salão luxuoso e repleto de lideranças globais.
Todos os presentes estavam atentos às palavras de Shirley Krenak, que pertence ao Povo Krenak, originário da Mata Atlântica.
Instantaneamente liguei a câmera e filmei os quase 10 minutos de um discurso forte e questionador que era traduzido em tempo real para uma audiência majoritariamente europeia. Em um evento que existe para fomentar a economia regenerativa, Shirley deu muito para os líderes pensarem.
Mais tarde, ficaríamos sabendo sobre a agenda dedicada aos guardiões da sabedoria. Além de Shirley, lideranças de povos indígenas dos Estados Unidos, Quênia e Nova Zelândia também estavam lá.
“Todo mundo quer falar sobre questões climáticas, projetos ambientais falseados, projetos ambientais ligados à proteção da terra, mas ninguém quer perguntar para os povos originários o que nós estamos achando disso.”
Dois dias depois, Shirley conduziu uma experiência imersiva e de alto teor emocional na agenda oficial do evento. Durante cerca de uma hora, suas palavras fizeram os presentes se reconectarem consigo mesmos, com o grupo presente e com a Terra.
Momentos antes da palestra, convidei-a para uma entrevista. O vídeo que você vai assistir agora é resultado desses dois encontros.
Ererré, Shirley contou, significa ‘tudo de bom e positivo’, e inhauit, ‘muito bom’. Foi assim que ela finalizou a sua fala de abertura, e é assim que essa história começa.
Ererré!
Comentar