Relatório A Onda Verde aponta as principais tendências e oportunidades para empreender e investir com impacto ambiental positivo no Brasil
Enquanto a humanidade vive um momento crucial no que diz respeito à emergência climática, questionamentos sobre o modelo econômico responsável por nos deixar à beira do colapso crescem e, junto com eles, tendências relacionadas a uma economia regenerativa se materializam.
Esse contexto é retratado no relatório A Onda Verde: Oportunidades para empreender e investir com impacto ambiental positivo no Brasil.
Profissionais da Pipe.Labo e da Climate Ventures, responsáveis pelo estudo, entrevistaram 17 especialistas e fizeram uma ampla pesquisa para produzir um relatório que conta a história da matriz econômica do Brasil, explica a transição da lógica extrativista para a regenerativa e retrata o contexto em que vivemos para, depois, apontar desafios, tendências e oportunidades do setor de impacto ambiental brasileiro.
O relatório foi apresentado por Daniel Contrucci, Co-founder da Climate Ventures, em sua palestra na Cúpula do Clima*.
Abaixo, trazemos um resumo dos pontos centrais do estudo, com um olhar especial sobre tendências, desafios e oportunidades.
Os principais desafios ambientais do Brasil
Os especialistas ouvidos para a elaboração do relatório A Onda Verde apontaram que os principais desafios ambientais do Brasil são:
1) Mudanças climáticas
“As mudanças climáticas estão entre os maiores desafios a serem enfrentados pela sociedade global no século XXI. Isso porque podem gerar impactos devastadores às trajetórias de desenvolvimento dos países e, consequentemente, sobre a vida de suas populações, seus sistemas produtivos e sobre os ecossistemas.”
2) Desmatamento e degradação de florestas
“O desmatamento ilegal dos principais biomas do país – como a Amazônia, o Cerrado e a Mata Atlântica – gera perdas muito mais profundas e em mais níveis do que podemos imaginar.”
3) Ocupação desordenada do território
“Tanto no meio rural como no urbano, o planejamento territorial e o desenvolvimento de infraestrutura no Brasil têm apresentado diversas lacunas. Uma das mais relevantes reside na baixa capacidade de conciliar modelos produtivos e zonas de conservação, subaproveitando o uso estratégico e sustentável dos recursos naturais.”
4) Insuficiência de saneamento básico
“A população brasileira, ainda hoje, sofre com uma infraestrutura de saneamento insuficiente e que gera graves consequências ao desenvolvimento nacional.”
Além de apresentar em detalhes cada desafio, o relatório traz soluções e cases que ilustram os caminhos para uma economia regenerativa. “Cada vez mais as organizações precisarão prestar conta e se responsabilizar pelos impactos em toda sua cadeia de valor. Além disso, surgirão cada vez mais negócios regenerativos – que geram valor econômico e, ao mesmo tempo, contribuem para a regeneração de ecossistemas”, contou Daniel.
De acordo com A Onda Verde, estes são os sete setores mais estratégicos para a agenda ambiental brasileira:
- Agropecuária;
- Gestão de resíduos;
- Água e Saneamento;
- Energia e Biocombustíveis;
- Logística e Mobilidade;
- Indústria;
- Florestas e Uso do solo.
Resumimos nos slides abaixo os principais desafios de cada um:
*Para chegar aos setores-chave para a agenda ambiental brasileira, A Onda Verde se baseou na análise dos especialistas entrevistados e, também, no estudo Não Perca Esse Bond – Ativos e projetos elegíveis à emissão de Títulos Verdes em setores-chave da economia brasileira, publicado pela plataforma de empréstimo coletivo SITAWI com o apoio do Instituto Clima e Sociedade (iCS).
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Tendências e oportunidades para empresas interessadas em gerar impacto ambiental positivo
Os desafios trazidos pela transição para uma economia regenerativa consolidam tendências, criam novos mercados e geram oportunidades. Neste sentido, A Onda Verde aponta que as seguintes áreas tendem a ganhar cada vez mais relevância no Brasil:
1) Rastreabilidade de produtos
“Diversos setores da economia brasileira possuem ótimos indicadores de sustentabilidade em seus processos produtivos (principalmente por conta da matriz elétrica brasileira, com grande participação de energias renováveis e por estes setores utilizarem ativos agrícolas e/ou renováveis em suas cadeias de valor).
No entanto, um enorme desafio ainda reside na capacidade de essas empresas demonstrarem a rastreabilidade dos atributos de sustentabilidade de seus produtos, colocando-os como melhores alternativas em relação aos concorrentes internacionais.”
2) Bioeconomia
“O potencial de utilização de bioativos brasileiros na indústria ainda é incrivelmente subexplorado. Conhecer e valorizar a biodiversidade não passa apenas pela proteção de espécies animais, mas também pela descoberta (bioprospecção) de novos ativos capazes de potencializar a sustentabilidade na economia nacional.
De alimentos a fármacos, de fibras à biomimética, há uma infinidade de possibilidades para que a indústria incorpore os ativos ambientais em seus processos produtivos, entregando valor a seus clientes ao mesmo tempo que são valorizadas e remuneradas as iniciativas de conservação desses ativos, principalmente os de base florestal.”
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3) Negócios regenerativos
“Por conta de décadas de desenvolvimento econômico descompassado da noção de sustentabilidade social e ambiental dos processos produtivos, muitos passivos foram gerados como consequência desse processo.
No entanto, mais recentemente, modelos de negócios inovadores cada vez mais demonstram a viabilidade de aliar a geração de valor e lucratividade à regeneração dos ecossistemas degradados, eliminando tais passivos à medida que são produzidos bens e serviços a partir de práticas mais sustentáveis.
Contudo, a ideia de uma economia regenerativa provoca também questionamentos sobre mudanças estruturais e profundas na lógica atual dos negócios, abandonando a noção de um capitalismo baseado em extrativismo e crescimento infinito e repensando inclusive as relações estabelecidas pelos negócios nas dimensões social e ambiental.”
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4) Mercado de ativos ambientais
“Diversos governos ao redor do mundo têm utilizado instrumentos de mercados para flexibilizar o cumprimento de metas e compromissos na dimensão ambiental. A ideia por trás desse movimento é a de que mercados de ativos ambientais podem gerar os benefícios ambientais desejados com o menor custo para a sociedade como um todo.
Para isso, empresas que possuem um menor custo para atingir o benefício ambiental desejado, podem ofertar o excedente do benefício produzido para empresas que não conseguem (ou em que o custo é muito alto) produzir o mesmo benefício ambiental.”
Matriz de Oportunidades
Por fim, o relatório A Onda Verde também apresenta uma Matriz de Oportunidades que é um guia para empreendedores e investidores que desejam alavancar uma nova economia de impacto ambiental positivo para o país.
É uma lista extensa de novas tecnologias e modelos de negócios inovadores direcionados a atender os principais desafios mapeados no relatório. As soluções são divididas a partir das premissas abaixo, e sempre acompanhadas por cases reais:
- Soluções que endereçam problemas ambientais também estão relacionadas a problemas sociais.
- Soluções que mitigam impactos ambientais negativos e outras que promovem impacto ambiental positivo.
- Diferentes atores do ecossistema de impacto devem ler a matriz de oportunidades à luz do papel que desempenham.
O ponto central dessa conversa é que temos um contexto em que as novas demandas da geração Z e de consumidores cada vez mais conscientes, a urgência das pautas da Agenda 2030, o fluxo do capital e as constantes inovações tecnológicas estão transformando a dinâmica dos investimentos e do empreendedorismo.
Dado o avanço do debate ESG, não é exagero afirmar que o “dinheiro verde” será cada vez mais direcionado para as disrupções que são boas para pessoas e para o planeta.
As 151 páginas do estudo A Onda Verde são valiosas para qualquer investidor/pessoa/empresa que deseja ter uma boa compreensão do setor de impacto e principais tendências. Leia ele na íntegra e saiba mais.
*Este artigo sobre as principais tendências e oportunidades para empreender e investir com impacto ambiental positivo no Brasil faz parte da cobertura da primeira Cúpula Global do Clima, evento organizado pelo Sistema B e pelo B Lab, que aconteceu entre 29/06 e 01/07/21. Assine nossa newsletter para receber todas as atualizações.
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