Coordenador de Adesão e Engajamento da Rede Brasil do Pacto Global revela quais são as necessidades de PMEs e grandes empresas quando o assunto é sustentabilidade e indica possíveis soluções para elas
*Escrito por Pedro Augusto
Há seis anos me inseri no mundo da sustentabilidade através do Sistema B Brasil. Lá, como parte do meu trabalho, conversei com centenas de empresas sobre a Certificação B, seu questionário e indicadores.
Majoritariamente tive reuniões com pequenas e médias empresas (PMEs), e notei alguns desafios particulares para essas organizações, que diferem de alguns desafios das grandes empresas (ao final resumirei esses aprendizados).
Ainda no Sistema B, pude trabalhar com mais de 30 empresas de grande porte e capital aberto, trazendo num formato de assessoria o preenchimento da Avaliação de Impacto B. Nessa experiência tive contato com dezenas de times de sustentabilidade, comitês de sustentabilidade, conselhos e interações com C-Level.
Após quatro anos e meio no Sistema B, fiz uma transição para o Pacto Global da ONU no Brasil, onde estou atualmente. Aqui tive interação majoritariamente com grandes empresas, trazendo para elas um olhar de sustentabilidade voltado para a agenda dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Durante esses seis anos, meu dia a dia envolveu compreender as necessidades em sustentabilidade das empresas, participar de dezenas de fóruns, eventos e reuniões bilaterais com empresas. Nessa escuta, que facilmente ultrapassou a marca de mil empresas, compreendi que há diversos pontos que são comuns para todas, e alguns pontos de diferença para grandes e pequenas.
3 desafios de PMEs quando o assunto é sustentabilidade
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Por onde eu começo
Vi que o tema de sustentabilidade é mais maduro em grandes empresas, se comparado às pequenas. Dessa forma, a grande pergunta de uma pequena empresa é: ”por onde começo a trabalhar práticas de sustentabilidade?”.
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Não tenho metas
Justamente não há metas por não se saber por onde começar.
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Não tenho relatório
Por não haver metas, não há relatório de sustentabilidade que siga algum padrão de mercado tipo GRI, ou relatório de atividades de sustentabilidade.
3 “soluções” para PMEs que desejam aprimorar suas práticas de sustentabilidade
Coloquei a palavra solução entre aspas por não ter a pretensão de dizer o que seria solucionar uma necessidade que envolve uma análise mais minuciosa do seu momento e modelo de negócio, mas, de maneira geral, recomendaria:
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Diagnóstico por ferramentas online
Existem diversas ferramentas para gestão de sustentabilidade. O próprio Pacto Global possui uma recomendação de 5 passos para iniciar um trabalho com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
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Definição de metas
A partir dos temas prioritários de trabalho, a empresa pode iniciar seu planejamento de metas. Uma proposta é utilizar questionários em sustentabilidade para colher boas práticas que o mercado exige. Entre os vários questionários disponíveis (Ethos, CDP, GRI, etc), o que o Pacto Global usa é a Comunicação de Progresso, disponível aqui.
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Publicação de metas e resultados
É interessante que a empresa divulgue um resumo de suas práticas em suas mídias sociais e website. Inclusive, vale sinalizar essas boas práticas para clientes, fornecedores e outras partes interessadas que fazem parte da empresa.
Leia também: Relatórios de sustentabilidade: uma ferramenta de transparência e responsabilidade socioambiental Boas práticas em relatórios de sustentabilidade |
3 desafios de grandes empresas quando o assunto é sustentabilidade
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Envolvimento da alta liderança e sensibilização dos colabores como um todo
É imprescindível que a agenda de sustentabilidade tenha um top-down muito claro, para que ganhe cada vez mais prioridade. Além disso, é necessário encontrar ferramentas para sensibilizar todos os colaboradores sobre o que a empresa faz (e pretende fazer) sobre sustentabilidade.
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Alinhamento cada vez maior com o modelo de negócio
Toda empresa tem sua maneira de gerar receita. É importante que as práticas em sustentabilidade estejam correlacionadas à sua operação, para além de práticas gerais como ”reciclagem” e ”projetos sociais” (que também são extremamente importantes).
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Metas públicas e ambiciosas
Cada vez mais a agenda de sustentabilidade toma força. Nesse sentido, uma empresa que se compromete publicamente, perante aos seus stakeholders, com metas ambiciosas, será cada vez mais uma marca reconhecida como liderança em sustentabilidade, o que gera valor a longo prazo. O Pacto Global estimula as empresas a adotarem os parâmetros da Ambição 2030.
3 “soluções” para grandes empresas que desejam aprimorar suas práticas de sustentabilidade
Também coloco a palavra soluções entre aspas aqui pois o intuito não é reduzir ou monopolizar as dezenas de soluções existentes no mercado.
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Alinhamento da empresa a um propósito
Colaboradores que trabalham em empresas ditas ”com propósito” tendem a ser mais satisfeitos no ambiente de trabalho. Em algumas assessorias já escutei de empresas que a missão era ”ganhar dinheiro”.
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Modelo de negócio e geração de receita andam lado a lado
Normalmente, uma empresa tem temas que são mais ”caros” à sua operação, ou seja, são aqueles em que ela deve colocar mais atenção estratégica. A Coca-Cola, por exemplo, tem a água como um dos seus principais insumos, dessa forma, precisa alinhar sua estratégia de sustentabilidade ao menor impacto possível sobre essa matéria-prima. Além disso, deve ser uma empresa que influencia de maneira positiva políticas públicas que visem garantir a boa gestão hídrica.
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Se pautar em benchmarks para alinhamento de metas
Hoje existe uma série de associações setoriais que podem e devem trabalhar em conjunto para alinhamento de metas ambiciosas em sustentabilidade. Outro elemento importante é que essas metas em sustentabilidade estejam baseadas em ciência e/ou que tenham referência sobre as principais certificações/diretrizes/atores do ecossistema de sustentabilidade, e nunca que seja uma meta que a empresa baseou em ”achismo”.
Em suma, a agenda de sustentabilidade ainda está em desenvolvimento, e sempre estará. Acredito que os próximos movimentos do mercado mostrarão como integrar cada vez mais os relatórios financeiros com o impacto socioambiental gerado pelas empresas – inclusive, já estamos vendo diversas iniciativas relacionadas a isso, culminando no aumento, ano após ano, de ativos financeiros que estão alocados para práticas ESG.
A ideia desse breve artigo não é dizer o que é verdade absoluta, ou o que está escrito em pedra, mas compartilhar alguns pensamentos com base nesses anos de trabalho com empresas. Agradeço todo comentário e complementação aos pontos citados.
*Pedro Augusto é formado em Administração de Empresas, pós-Graduando em Gestão Estratégica para a Sustentabilidade e Coordenador de Adesão e Engajamento da Rede Brasil do Pacto Global
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